Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 154

152 
“Thaina Khan: a estrela da manhã” e o processo de individuação
Na primeira parte da obra, intitulada “Pesquisadas e interpretadas por Waldemar de
Andrade e Silva” (1999, p. 12-43), há o texto “Thaina Khan: a estrela da manhã” (1999,
p. 24) que relata a história de Imaeru, uma índia Karajá muito linda e vaidosa, que desejava
possuir a estrela Thaina Khan, conhecida como estrela d’alva. O Pajé, seu pai, entristecido
com a angústia da filha, intercedeu a Tupã que permitisse a realização do desejo da bela
índia. Porém, Tupã o alertou de que a estrela não poderia descer a terra em sua forma
celestial, mas sim na forma humana. Em uma noite enluarada, a estrela chegou, porém
Imaeru deparou-se com um velho e o rejeitou. Este não poderia mais voltar à sua condição
de origem.
No entanto, Danace, irmã de Imaeru e menos bela, sensibilizou-se com a situação,
casou-se com o velho e viviam felizes. Um dia, o marido demorou-se para retornar a casa e
a esposa foi procurá-lo na mata. Encontrou-o rejuvenescido e iluminado, pois Tupã o tornara
belo como forma de reconhecimento da bondade da índia. Imaeru, ao perceber, o jovem
marido da irmã, desejou-o. Porém, o laço entre Danace e Thaina Khan havia se fortalecido,
ambos adentraram a mata. Então, a linda índia entristecida e inconformada adentrou a
floresta e foi “[...] transformada por Tupã no pássaro urutau, que, em noites de luar, entoa
um triste canto, lamentando haver perdido o amor de sua almejada estrela da manhã”
(ANDRADE E SILVA, 1999, p. 24).
A narrativa nos traz uma série de questões relativas à condição psíquica do homem
– o desejo, a metamorfose, a maturidade, superar frustrações, dilemas edípicos –, como
também dialoga com outros contos maravilhosos. Inicialmente, podemos assinalar a relação
da filha e do pai. Este realiza performances que facultem à filha obter seu objeto de desejo,
no caso, uma estrela. Por sua vez, a filha, quando soube que Tupã concordara em atender a
seu desejo ficou radiante e, em uma noite, elevou “[...] seus olhos em direção aos astros,
pediu a almejada estrela que descesse para desposá-la. Nesse instante, desceu do céu
uma luz, surgindo a sua frente um velho: era Thaina Khan, que de lá viera para casar-se
com ela” (ANDRADE E SILVA, 1999, p. 24). Decepcionada com a aparição do velho, rejeita-o
e alega a impossibilidade deste de desposar uma jovem bela. Desse modo, o princípio do
prazer não cede espaço ao princípio da realidade e a índia não aceita relacionar-se com
Thaina Khan.
Aparentemente, a personagem deixa traduzir um conflito interno e não quer
experimentar a possível saída da casa paterna. O pai, por sua vez, providencia o encontro
da filha com o outro. Há, pois, um cuidado paterno, mas ela ainda não amadureceu o
suficiente para entregar-se de corpo e alma à figura masculina, pois sair do lar é uma ação
1...,144,145,146,147,148,149,150,151,152,153 155,156,157,158,159,160,161,162,163,164,...328
Powered by FlippingBook