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indígenas que eram assolados em seu próprio habitat natural. Jerônimo Monteiro, por sua
vez, no texto
Corumi
(1956), desconstrói o estereótipo do índio violento e o representa em
consonância com a natureza.
Representações dos índios na coletânea de Andrade e Silva
Ao refletirmos sobre as coletâneas ou livros que trazem narrativas folclóricas e
histórias milenares, notamos que estes guardam o segredo da humanidade, atravessando
gerações e gerações, sobretudo as narrativas míticas. Especificamente, o texto
Lendas e
mitos dos índios brasileiros
(1999), de Waldemar de Andrade e Silva, não foge à regra. Ao
lado deste, vale lembrarmos folcloristas como Câmara Cascudo e Sílvio Romero. No cenário
atual, devemos considerar Ricardo Azevedo e Ciça Fitipaldi, entre outros escritores que se
apropriam da cultura popular e trazem para o universo literário a magia e o encantamento
das histórias vindas do passado.
Nelly Novaes Coelho (1998) comenta a dificuldade de os filólogos, etnólogos,
psicólogos, entre outros estudiosos, identificarem a origem dessas histórias milenares, pois
elas se perdem na linha do tempo. O que importa, neste texto, é o fato de que traduzem
uma forma de ver e sentir a existência do homem em diferentes momentos da sua história.
Justamente, por isto, podem contribuir para o processo de humanização do leitor, como
assinala Antonio Cândido (1995), ao afirmar que a literatura tem o poder de humanizar o
homem no sentido mais profundo, seja na leitura de contos, anedotas, mitos seja em outras
histórias. Salienta, ainda, que a literatura é “[...] uma manifestação universal de todos os
homens em todos os tempos. Não há povo e não há homem que possa viver sem ela, isto é,
sem a possibilidade de entrar em contato com alguma espécie de fabulação.” (CÂNDIDO,
1995, p. 235).
Assim, entendemos, neste texto, que o mito refere-se às narrativas primordiais que,
alegoricamente, trazem uma explicação de forma intuitiva, marcada pela poesia, pela magia
e pela religião, dos fenômenos basilares da existência humana diante da Natureza, como
também da “Divindade ou do próprio homem. Cada povo da Antiguidade (ou os povos
primitivos que ainda sobrevivem em nossos tempos) tem seus mitos intimamente ligados à
religião ancestral, ao começo do mundo e dos seres e também à alma poética do Universo”
(COELHO, 1998, p. 85-86). Desse modo, os mitos podem ser considerados, conforme
Campbell em entrevista concedida a Bill Moyers, como “[...] pistas para as potencialidades
espirituais da vida humana” (CAMPBELL, 1990, p.6). Já as lendas configuram-se como
narrativas anônimas, sendo que a matéria pode ser verdadeira ou apenas uma hipótese
histórica. Para o real e o imaginário não há limites, de tal maneira que se torna impossível
delimitar a fantasia e a realidade.