Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 149

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primitivas são belíssimas e artísticas, por isto conferem tanto atmosfera ao relato como
ampliam o imaginário do leitor, além de remeterem à cosmogonia. Além disso, pela riqueza
de traços, exploração de cores e texturas, bem como interação com o leitor, elas são
dialógicas, provocadoras e, por isso, ampliam as significações do texto verbal.
A apresentação do livro fica sob a responsabilidade de Waldemar de Andrade e Silva
que registra seus dados biográficos e relata que, em 1944, entra em contato com os irmãos
Orlando, Leonardo e Cláudio Villas Bôas, momento em que pôde acompanhar os trabalhos
destes na missão Roncador-Xingu. Ambos pretendiam buscar a criação de povoamento
civilizatório, visto que a preocupação com o índio estendia-se à pacificação das
comunidades selvagens daquela localidade.
Pelas experiências da infância e contatos com pessoas comprometidas com a
condição do índio, Andrade e Silva o elege como mote para sua criação artística. Em 1971,
passa a conviver com tribos indígenas no Xingu, observando a vida na sua condição mais
íntima. Afirma que a vida “[...] no Xingu constitui um espetáculo de rara beleza. Logo ao
amanhecer, quando o catipuruí canta na cumeeira das habitações de sapé, os índios, como
que brotando da terra, levantam-se para viver um novo dia” (ANDRADE E SILVA, 1999,
p. 8). Assim, o dia começa, cada índio, despreocupadamente, realiza o seu trabalho: o
plantio, a colheita, a caça, a pesca, o jirau até a noite chegar.
A noite chega como em quaisquer outros lugares do mundo, mas no Xingu ela surge
misteriosa. Os índios permanecem no centro da aldeia e ao lado da fogueira contam
histórias diversas, “[...] de magia e de heróis míticos. Elas envolvem o bem e o mal, vida e
morte, dia e noite, água e fogo, Sol e Lua, terra e infinito, estrelas e cometas, além de
florestas, trovões, relâmpagos, chuvas, homens, animais, pássaros, insetos, peixes, sonhos
e espíritos” (ANDRADE E SILVA, 1999, p. 8). Essa enumeração de elementos que circulam
as narrativas faz parte das criações artísticas e das festividades, como também dos rituais
da tribo.
A biografia do autor, disposta na apresentação do livro, confere-lhe discurso de
autoridade pela sua busca constante da cultura indígena e seu empenho na produção
primitivista. A introdução, escrita pela psicoterapeuta Joya Eliezer, é atraente para o leitor,
pois justifica a produção do autor, bem como enfatiza o gosto que temos em nos
depararmos com o “contador de histórias” que nos enreda e, no seu discurso, nos revela
tanta beleza (ELIEZER, 1999, p. 10). Eliezer aborda a contação de histórias, descrevendo a
magia que se incorpora na voz e no corpo do contador, e como os fios das palavras vão se
entrelaçando e se constituindo em um universo fictício, que traz à tona uma série de fatos da
vida, da existência e da relação do homem com a natureza em um estado primitivo e
atemporal. Eliezer salienta a importância do trabalho de Waldemar, alegando que este
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