Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 140

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(MOURA, 1986, p. 20-44), apenas para citar alguns, embora já fizesse parte da realidade
das praias brasileiras desde a segunda metade da década de 1950.
Outra tentativa de regular o corpo feminino era a quase exigência do uso da bata
para as mulheres grávidas que quisessem frequentar as praias. À mulher não era ainda
permitido, pelo menos no início da década de 1970, exibir a gravidez sem a bata que descia
do biquíni e escondia a barriga grávida, sinal da prática da sua sexualidade. Um exemplo
disso é o fato de a atriz Leila Diniz ter sido duramente criticada por posar grávida de biquíni
na praia de Ipanema, em 1971. A atitude de Leila fora entendida como um atentado à
sacralidade da maternidade, manifestado na roupa escolhida para as fotos, pouco
condizente com a nobre missão de ser mãe. Este acontecimento é significativo das
suspeições que ainda recaíam sobre o corpo feminino no início da década de 1970
(SANT’ANNA, 2012, p. 119).
A vestimenta foi um dos principais canais pelos quais as mulheres manifestaram sua
emancipação, e nas décadas de 1960 e 1970 a roupagem usada pelas folionas foi se
tornando cada vez mais sumária, como resultado das transformações dos trajes e do próprio
papel da mulher na sociedade. As fantasias luxuosas e ornamentadas, típicas dos festejos
passados, cederam lugar, a partir da década de 1950, a roupas mais leves, como shorts,
blusas tomara que caia,
baby dolls
e vestimentas que permitiam explorar a sensualidade por
meio do desnudamento de determinadas partes do corpo, como as pernas e a barriga
(MAZIERO, 2011, p. 35).
Muitas foram as cartas enviadas pelos leitores à revista
Manchete
a respeito da
cobertura dos festejos carnavalescos empreendida pelo periódico. Parte significativa das
cartas criticava a nudez presente no carnaval carioca e, sobretudo, a ousadia da revista em
publicar tais fotografias. Um leitor, por exemplo, em carta escrita em 1961, fazia críticas ao
“nudismo parcial que é levado aos lares brasileiros” a ponto de mandar juntamente com sua
carta o exemplar da revista comprada. Além disso, manifestava abertamente o desejo de
que a revista entrasse “no caminho da boa leitura, aceita nos lares por todos” (O LEITOR...,
18 mar. 1961, p. 04). Apesar de o escrito ser pertencente a um período ainda notadamente
conservador da sociedade brasileira – início da década de 1960 – em que prevaleciam
regras de comportamento muito estritas, é possível encontrar comentários semelhantes a
esse no final da década de 1960 e até mesmo na década de 1970.
Em 1968, uma leitora indignada com as imagens vistas na revista
Manchete,
escreve
para o periódico a fim de demonstrar o seu espanto com o carnaval praticado no Rio de
Janeiro:
Faz 15 anos que deixei o Brasil. Fui criada em São Paulo e vivi sete anos
no Rio. Amigos meus continuam a mandar-me a sua revista, que recebo
com prazer. Fico, no entanto, horrorizada com as fotografias dos foliões
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