Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 135

133 
ligado a um intuito de identificação das leitoras da época com essa protagonista, pensando
no público-alvo dos periódicos da época
2
.
Mesmo tratando de questões locais,
Helena
também não foge aos padrões europeus
em termos de trama, mas essa ligação não se baseia na cópia. Machado de Assis sabia
quem eram seus leitores (ou leitoras), sabia o que eles liam, sabia o que eles queriam ler,
portanto, não podia deixar de tratar de assuntos que fossem lugar-comum na literatura de
uma forma geral, por isso não poupou seu romance de assuntos como casamento por
interesse, posições e imposições sociais, amores impossíveis, arrependimento, morte, entre
outros, por isso
Helena
tem o tom dos dramas europeus, embora com várias ressalvas que
lhe fazem obra essencialmente nacional. Por isso,
Helena
[...] foi objeto de comentários e elogios em várias publicações. No jornal
A
Reforma
e na
Imprensa Industrial
, foi alçado à condição de modelo do bom
romance nacional e contra-exemplo do que Camilo Castelo Branco criticava
como livros sonolentos, escritos numa linguagem “a suspirar mimices de
sutaque”, referências às obras de José de Alencar, em particular, e à
literatura brasileira em geral. (GUIMARÃES, 2004, p. 154).
De qualquer forma, não podemos nos deixar levar por análises precipitadas da obra
de Machado de Assis anterior a
Memórias póstumas de Brás Cubas
. Não podemos
concordar com afirmações como as de Agripino Grieco que diz que “
Helena
é inteiramente
estruturada à maneira de França. Ainda muito Feuillet. Nos seus passeios a cavalo e nas
suas expansões íntimas, a heroína segue as amazonas do romancista de Saint-Lô”.
(GRIECO, 1960, p. 41). Certamente a obra dialoga com os romances de Feuillet e de outros
contemporâneos europeus, até mesmo porque era o que os leitores (ou as leitoras) de seu
tempo buscavam nos folhetins, entretanto, Machado de Assis soube dar ao leitor o que este
queria ler ao mesmo tempo que também dava o que o leitor deveria ler.
Helena
dialoga com
obras internacionais e se coloca em posição de igualdade estética em relação às obras
canônicas do mundo. Com essa proposta cosmopolita, a obra também aproveita os modelos
europeus mais apreciados aqui para efeito de atração dos leitores brasileiros, mesmo assim,
a obra não deixa de discutir a história e a política do Brasil oitocentista.
Antes de terminar esta análise, citamos o que um dos maiores estudiosos de
Machado de Assis diz sobre o assunto:
Em Machado, juntam-se por um momento os dois processos gerais da
nossa literatura: a pesquisa dos valores espirituais, num plano universal, o
conhecimento do homem e da sociedade locais. Um eixo vertical e um eixo
horizontal, cujas coordenadas delimitam, para o grande romancista, um
2
Para mais informações sobre o público leitor dos periódicos oitocentistas, ver: AZEVEDO, Sílvia Maria. Machado de Assis:
entre o jornal e o livro.
O Eixo e a Roda
, v. 16, 2008, p. 168. Disponível em:
. Acesso em: 13 ago. 2013.
1...,125,126,127,128,129,130,131,132,133,134 136,137,138,139,140,141,142,143,144,145,...328
Powered by FlippingBook