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De qualquer forma, Machado de Assis também se aproveitou da grande divulgação
de obras europeias para lê-las incansavelmente, e também se utilizar delas em suas obras,
mas não da forma passiva que ele criticava. Não precisamos procurar muito na sua obra
para encontrarmos os diálogos estabelecidos entre seus textos e os textos de Dumas, Hugo,
Feuillet, entre vários outros da França e do mundo. Além dos exemplos implícitos de textos
estrangeiros que permeiam
Helena
, Daniela Mantarro Callipo (2011) aponta o diálogo
explícito que o romance de Machado estabelece com
Manon Lescaut
, do Abade Prévost e
Paul et Virginie
, de Bernardin de Saint-Pierre. Nesse trabalho, a autora demonstra “que a
construção da personagem Helena se faz por meio de um diálogo intertextual com esses
dois escritores do século XVIII.” Baseada na teoria da intertextualidade, Callipo observa a
forma pela qual as duas obras francesas aparecem em
Helena
com a função de “despistar”
o leitor. “Ao confrontar Helena com Manon, símbolo da cortesã infiel, e com Virginie, modelo
de castidade” (CALLIPO, 2011), Machado cria, aos olhos do leitor, uma personagem
ambígua, e leva o leitor a permanecer até o fim do romance com a dúvida: Helena é Manon
ou Virginie? E, essa dúvida, é uma forma muito especial de agregar significação para sua
obra fazendo uso do elemento europeu, sem, com isso, tornar a obra uma cópia.
Dos textos que nos propomos a analisar aqui, o “Instinto de nacionalidade” é o mais
complexo, talvez por ser o menos antigo (foi escrito quatorze anos após “O Folhetinista”),
portanto, quem noticia o estado da literatura nacional é agora o Machado de Assis que já
havia escrito seu primeiro romance,
Ressurreição
(1872), e também já tinha publicado os
Contos Fluminenses
(1870), além de muitos textos críticos, algumas peças teatrais, poesias
e algumas traduções.
Na época desse texto (1873), as preocupações do autor haviam mudado, a
excessiva europeização não era mais o único problema, existia, então, o problema inverso,
o excesso de nacionalidade, ou uma nacionalidade idealizada. Essa questão não era nova,
conforme já mencionamos, mas agora ela tinha tomado proporções muito maiores. Além de
reutilizar o autor Basílio da Gama como exemplificação, outra passagem de “Instinto de
nacionalidade” se assemelha muito a uma parte de “O
passado, o presente e o futuro da
literatura”. Seguem as duas passagens, primeiro em “O
passado, o presente e o futuro da
literatura”:
[...] é mais fácil regenerar uma nação, que uma literatura. Para esta não há
gritos do Ipiranga; as modificações operam-se vagarosamente, e não se
chega em um só momento a um resultado. (ASSIS, 2013, p. 64).
Em seguida no texto “Instinto de nacionalidade”: