Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 130

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proposta de trabalho, o texto serve justo, já que também questiona a europeização da
produção literária no Brasil, ainda que dentro de um gênero criado na Europa.
Sobre o que nos importa aqui, Machado diz o seguinte:
Na apreciação do folhetinista pelo lado local, temo talvez cair em desagrado
negando a afirmativa. Confesso apenas exceções. Em geral o folhetinista
aqui é todo parisiense; torce-se um estilo estranho, e esquece-se nas suas
divagações sobre o
boulevard
e
Café Tortoni
, de que estão sobre
mac-
adam
lamacento e com uma grossa tenda lírica no meio de um deserto.
Alguns vão até Paris estudar a parte fisiológica dos colegas de lá; é inútil
dizer que degeneram no físico como no moral.
Força é dizê-lo: a cor nacional, em raríssimas exceções tem tomado o
folhetinista entre nós. Escrever folhetim e ficar brasileiro é na verdade difícil.
Entretanto como todas as dificuldades se aplanam, ele podia bem tomar
mais cor local, mais feição americana. Faria assim menos mal à
independência do espírito nacional, tão preso a essas imitações, a esses
arremedos, a esse suicídio de originalidade e iniciativa. (ASSIS, 2013, p. 86).
Novamente, notamos um Machado de Assis preocupado com os excessos de
Europa nos nossos folhetins, e muito exigente de novo, sobretudo se levarmos em
consideração que o folhetim “[...] nasceu na França, na década de 1830” (MEYER, 1996,
p. 30), sendo que,
A década de 1840 marca a definitiva constituição do romance-folhetim como
gênero específico de romance. Eugène Sue publica no
Journal des Débats
entre 1842 e 1843
Os mistérios de Paris
. Em 1844 sai, do mesmo Sue,
O
judeu errante
; de Dumas,
Os três mosqueteiros
e
O conde de Monte Cristo
;
de Balzac, a continuação folhetinesca de
As ilusões perdidas
, ou seja,
Esplendores e mistérios das cortesãs
. (MEYER, 1996, p. 63).
Ou seja, sabendo que “O Folhetinista” é de 1859, fazia somente quinze anos que as
grandes obras francesas estavam sendo publicadas em folhetim, e isso não é muito se
pensarmos nas condições de produção e divulgação de periódicos no século XIX. Ainda
sobre esse assunto, José Ramos Tinhorão diz o seguinte:
Assim, quando a partir da década de 1830 os jornais brasileiros lançam a
novidade das traduções dos romances de folhetins europeus, os candidatos
a escritores no Brasil encontram a forma ideal de estrear na literatura
dirigindo-se de maneira pessoal a um público em formação. (TINHORÃO,
1994, p. 27).
Pensando que, na década de 1830, os jornais brasileiros ainda começavam suas
aventuras pela publicação de romances traduzidos, não seria de se estranhar que a nossa
literatura seguisse os passos da literatura europeia, mas, para o exigente Machado, esse
movimento era condenável.
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