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Não há dúvida que uma literatura, sobretudo uma literatura nascente, deve
principalmente alimentar-se dos assuntos que lhe oferece sua região; mas
não estabeleçamos doutrinas tão absolutas que a empobreçam. O que se
deve exigir do escritor, antes de tudo, é certo sentimento íntimo, que o torne
homem do seu tempo e do seu país, ainda quando trate de assuntos
remotos no tempo e no espaço. (ASSIS, 2013, p.432-433).
O “Instinto de nacionalidade” é um texto que propõe um balanceamento entre a
universalidade e a cor local na literatura, como exemplo, se pergunta “[...] se o
Hamlet
, o
Otelo
, o
Júlio César
, a
Julieta e Romeu
têm alguma coisa com a história inglesa nem com o
território britânico, e se, entretanto, Shakespeare não é, além de um gênio universal, um
poeta essencialmente inglês.” (ASSIS, 2013, p. 432).
Com base nesses apontamentos, podemos interpretar, por meio do “Instinto de
nacionalidade”
,
que Machado pretendia uma literatura ambivalente, que tratasse de
assuntos nacionais sem deixar de lado questões universais e sem inventar uma
nacionalidade não condizente com a realidade do Brasil. Também queria uma juventude
literária ativa, que soubesse ler criticamente os clássicos e arrancar-lhes o melhor, e uma
crítica que lhes desse um rumo a seguir.
Essa questão da crítica prevalece em dois dos textos analíticos de Machado de Assis
vistos aqui, embora com uma pequena mudança. Ela é a solução proposta pelo autor para
os problemas da literatura levantados. Em “O passado, o presente e o futuro da literatura”,
Machado de Assis menciona que a “influência poderosa da literatura portuguesa sobre a
nossa, só podia ser prejudicada e sacudida por uma revolução intelectual”, já em “Instinto de
nacionalidade”, o problema tanto da excessiva europeização quanto do regionalismo utópico
da época, seria a falta de uma “crítica doutrinária, ampla, elevada, correspondente ao que
ela é em outros países.” (ASSIS, 2013, p. 433). Nos dois casos, o que falta é uma porção
pensante da população, que se dedique à análise tanto da literatura quanto da relação desta
com a política e com a sociedade de uma forma geral. Na falta dessa porção pensante, o
próprio Machado assume esse posto crítico, junto com o de escritor de literatura, analisando
a produção de seu tempo à medida que põe em prática seu aprendizado.
Percebemos, pelo desenvolvimento desses textos críticos de Machado de Assis
analisados aqui, que as preocupações do autor em relação à literatura nacional sofreram
certa mudança de polo, ou uma junção balanceada entre os polos. Em “O passado, o
presente e o futuro da literatura”, o texto se movimenta pelo receio de que nossa literatura
mantenha-se “escravizada” pela literatura portuguesa e mundial. Em “O Folhetinista”, essa
preocupação retorna, mesmo num ponto de vista um pouco diferente. Nesse caso a
preocupação não se dirige mais diretamente a Portugal, mas à França, berço do folhetim.
Em “Instinto de nacionalidade”, a tônica se inverte, e a preocupação se direciona mais
efetivamente aos excessos de uma nacionalidade idealizada na literatura brasileira. Essas