Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 129

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recém-emancipada, ressalta o “sacrifício heroico, admirável, e pasmoso” de D. Pedro I, e, ao
mesmo tempo, nota que a literatura não acompanhou essa emancipação:
Mas após o
Fiat
político, devia vir o
Fiat
literário, a emancipação do mundo
intelectual, vacilante sobre a ação influente de uma literatura ultramarina.
Mas como? é mais fácil regenerar uma nação, que uma literatura. Para esta
não há gritos do Ipiranga; as modificações operam-se vagarosamente, e
não se chega em um só momento a um resultado. (ASSIS, 2013, p. 64).
Ainda no mesmo texto, Machado de Assis nos dá sua ideia para a solução deste
problema, dizendo ser “evidente que a influência poderosa da literatura portuguesa sobre a
nossa, só podia ser prejudicada e sacudida por uma revolução intelectual.” (ASSIS, 2013,
p. 62). Essa revolução intelectual é seu desejo e sua estratégia literária, que ele põe em
prática paulatinamente, analisando o que os outros autores fazem e tentando não repetir
seus erros.
Em “O Folhetinista”, texto publicado pouco mais de um ano depois de “O passado, o
presente e o futuro da literatura”, a preocupação é semelhante, mas a relação entre a
europeização ou não da literatura nacional não se estabelece mais com a política, mas com
o folhetim, e o representante da Europa não é mais a ex-metrópole, mas a França; e a
metáfora bem humorada de Machado aparece também neste texto teórico:
Uma das plantas europeias que dificilmente tem se aclimatado entre nós, é
o folhetinista.
Se é defeito de suas propriedades orgânicas, ou da incompatibilidade do
clima, não o sei eu. Enuncio apenas a verdade.
Entretanto eu disse –
dificilmente
– o que supõe algum caso de aclimatação
séria. O que não estiver contido nesta exceção, vê já o leitor que nasceu
enfezado e mesquinho de formas.
O folhetinista é originário da França, onde nasceu, e onde vive a seu gosto,
como em cama no inverno. De lá espalhou-se pelo mundo, ou pelo menos
por onde maiores proporções tomava o grande veículo do espírito moderno;
falo do jornal.
Espalhado pelo mundo, o folhetinista tratou de acomodar a economia vital
de sua organização às conveniências das atmosferas locais. Se o tem
conseguido por toda a parte, não é meu fim estudá-lo; cinjo-me ao nosso
círculo apenas. (ASSIS, 2013, p. 83).
Aparentemente, no “nosso círculo”, o folhetinista não tem se aclimatado muito bem,
segundo o que o texto nos diz.
Esse texto não atinge todas as suas expectativas sozinho. Na verdade, ele é até um
pouco reduzido em informações, se lido assim, de forma autônoma. Ele faz parte de um
pequeno grupo de textos críticos que Machado publicou no
Correio Mercantil
e n’
O Espelho
,
desde o início de 1859, e que tratavam de assuntos relacionados ao jornal enquanto
poderoso meio de comunicação que dava seus primeiros e imperiosos passos no Brasil, e a
relação desse meio com a literatura de uma maneira geral. De qualquer forma, para a nossa
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