pessoa, ora falando por meio de amigos, artistas, profissionais e ora emprestando a voz
para a natureza e objetos.
Não se pode negar que Sevilha e Recife, Pernambuco e Espanha, permanecem
como objeto chave que abre um novo mundo para o leitor. Entre as referências e
reverências que são feitas à cultura espanhola, passando pelas pinturas, touradas,
poesias, danças, folclore e arquitetura, no primeiro grupo de poemas (
Sevilha Andando
),
Cabral vê a cidade na mulher, que lhe assume as qualidades exaltadas por si, e no
segundo grupo (
Andando Sevilha
), a perspectiva é a da mulher na cidade, completando
as qualidades citadas no grupo de poemas anteriores.
Mulher-cidade-escrita está em um corpo só, que o poeta percorre com os olhos e
com as mãos. No poema
“A Barcaça”
(p18-19), que só alguns versos depois
descobrimos que leva na proa o nome “Sevilha”, embarca em Sevilha, que quer dizer
embarcar numa mulher, posto que “é feminina sua epiderme” (
“Cidade dos Nervos”
,
p.24).
Para viver em Sevilha, é necessário reeducar os sentidos, pois como diz o poema
Viver Sevilha”
(p.20-21):
Só em Sevilha o corpo está
com todos os sentidos em riste,
sentidos que nem se sabia,
antes da andá-la, que existissem;
sentidos que fundam num só:
viver num só o que nos vive,
que nos dá a mulher de Sevilha
e a cidade ou concha em que vive.
(...)
Sevilha de existência fêmea,
a que o mundo se sevilhize.
João Cabral, um poeta já maduro, descobre e se descobre em Sevilha a geografia
feminina que erotiza seus versos, como em
“Lições de Sevilha”
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