Habitar Sevilha, a “Mulher cidade”, é possui-la, “seviciá-la”. Ao habitar o poeta
para que ele possa permanecer em um imaginário erotizante, redescobre o corpo
feminino e fertiliza a língua, literalmente. A importância do verbo andar confirma-se
pela presença evidente nos títulos:
Seviha Andando
e
Andando Sevilha
.
Interpretar os poemas sem receio obedecendo à leitura (que em tantos momentos
é um tanto quanto erótica) pode-se observar a repetição dos títulos presentes no tema,
propiciando a completude, como pares que se atraem. O poema
“O Segredo de
Sevilha”
(p.23) nos traz novas pistas:
De Joaquim Romero de Murube
ouvi certa vez: “De Sevilha
ninguém jamais disse tudo.
Mas espero dizê-lo um dia.”
Morreste sem haver podido
a prosa daquele projeto;
Sevilha é um estado de ser,
menos que a prosa pede o verso.
Caro amigo Joaquim Romero,
nem andaluz eu sou, sequer,
mas digo: o tudo de Sevilha
está no andar de sua mulher.
E às vezes, raro, trai Sevilha:
pude encontrá-lo muito longe,
no andar de uma não sevilhana,
o tudo que buscas. Ainda? Onde?
Mesmo sem ser andaluz, o poeta sabe que “o tudo de Sevilha está no andar de
sua mulher”. Sevilha é confundida com a mulher que por seu corpo anda (Sevilha
andando). Habitar e andar Sevilha é conhecê-la e possuí-la, mas também é ser por ela
possuído, como uma reciprocidade de entrega e descoberta.
Nos poemas
“O aire de Sevilha”
e
“Presença de Sevilha”
o trabalho do verbo
“estar” tem um potencial de diferenciação, assim como nos outros dois verbos já
citados. O poeta trabalha o verbo “estar” controlando a ambigüidade a que a língua
limita e, assim como o verbo “andar”, representa o ato de ter relações sexuais: “Em um
só dia, estive com duas mulheres.”.