METAFORIZAÇÕES DA MULHER E DA CIDADE EM SEVILHA
ANDANDO, ANDANDO SEVILHA, DE JOÃO CABRAL DE MELO NETO
Analice Andrade Anastacio da Silva – G - UNESP/ASSIS
Prof. Dr. Paulo César Andrade da Silva - UNESP/ASSIS
RESUMO: Na obra
Andando Sevilha, Sevilha Andando
(1990), de João Cabral de Melo Neto, a
cidade espanhola é personificada e erotizada, assumindo freqüentemente as formas ou funções
femininas. Além de signo geográfico, a cidade de Sevilha é uma língua e uma mulher. Cabral
servirá Sevilha como um cavalheiro que corteja e seduz uma dama, buscando traduzir a sua
cultura e sua feminilidade. Nesta comunicação partimos da hipótese de que a valorização do
espaço não serve apenas para descrever a referência urbana, mas funciona como metáfora da
interioridade. A descrição exterior é estratégia do poeta para buscar adentrar no espaço de
intimidade da cidade, entendido como um corpo erótico. A escrita cabralina torna objetiva o
processo de sedução, distanciando-se, desse modo, a imagem da cidade de um ato
contemplativo subjetivo. Em
Andando Sevilha, Sevilha andando
, a subjetividade busca
objetivar-se nas intensidades e forças que distinguem seres e coisas. Contrária a linguagem dos
turistas admirados, a linguagem que “caminha” por Sevilha, revela ao leitor a paixão do poeta
pela cidade por meio de um campo semântico que traduz a sensualidade. Ao expressar a
percepção sensual através do gosto, do cheiro, do andar, do ritmo e da dança, o poeta o faz sob o
intenso controle de sua arquitetura, que pertence tanto a cidade quanto ao poema.
PALAVRA-CHAVE: João Cabral de Melo Neto; Metáfora; Mulher e cidade;
Sevilha Andando
e Andando Sevilha
.
Para João Cabral, a cidade de Sevilha, além de signo geográfico, será uma língua
e uma mulher. Cabral servirá Sevilha como um cavalheiro que corteja e seduz uma
dama, buscando traduzi-la em seus poemas a cultura de um paraíso feminino, através da
mulher-língua-cidade. Em 1990, o livro
Sevilha Andando
vem acompanhado de
Andando Sevilha
, e neste movimento de troca, Cabral se alimenta da cultura espanhola e
devolve a ela oferendas em versos. Pode-se dizer também que é uma troca de sensações:
a cidade se doa ao olhar e ao tato estrangeiro, e em troca, o poeta a canta, musa
erotizada.
A geografia do poeta vai adquirindo formas definitivas. No poema
Autocrítica
,
de 1980, Cabral tenta evitar o lirismo e subjetivismo (que, segundo declarações do
próprio poeta, contaminaram a poesia desde a febre romântica), ocultando a primeira
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