Estar, andar e habitar são disfarces de uma poesia da precisão que vai descobrir
nos entrelugares da língua as fímbrias por onde pulsa o erótico. (Salgueiro, 2011).
As forças do desejo e da sedução que fazem parte da figura feminina são
acionadas, geralmente, por outras figuras que fazem parte da natureza e da cultura.
Nas imagens poéticas de Cabral, a mulher recebe um grande papel erótico que
surge nas mais diversas situações.
O princípio estético-filosófico reconhecido no erotismo das obras de João
Cabral, nos permite observar que nem tudo é mulher, mas existem presenças femininas
por toda parte. É papel do poeta acioná-las pela imaginação poética, trazendo novas
sensações.
A expansão da natureza feminina a outras partes do mundo, e também o poder
que a imagem da mulher tem de atrair somas eróticas de outros corpos, subsumem um
processo de transformação entre mulher e mundo, que se entrelaçam diante do olhar do
poeta.
Mais do que referência ao erotismo limitado à figura da mulher, as imagens
cabralinas da sedução feminina atribuem-se a uma espécie de forças, unindo-se a outras
forças eróticas do mundo, formando um só corpo independente, que pode ser referência
tanto para uma mulher em Olinda como em Sevilha, por exemplo.
Construído pela percepção erótica, o corpo sedutor é permanente a natureza
híbrida da imagem poética que o determina, que podem ser vistos nos poemas do livro
Sevilha Andando
.
A disseminação do erotismo na obra de Cabral descentraliza o foco da imagem
poética e torna objetivo o processo de sedução, que mantém o desejo seguramente
distante de uma contemplação altamente disciplinada, a qual compara, processa,
classifica, define e especula o objeto ou o horizonte sedutor:
Tua sedução é menos,
de mulher do que de casa
pois vem de como é por dentro
ou por detrás da fachada.
(...)
Seduz pelo que é dentro,
ou será, quando se abra;
pelo que pode ser dentro
de suas paredes fechadas”.