Barros, desde o poeta até os vagalumes. Considerado o impacto que tem as
transmutações manoelinas em cada ser, é possível associar aqui também o apelo ao
sensorial: as várias transformações operadas por Barros em seus personagens chegam ao
leitor pela via dos sentidos. É por imagens sinestésicas como “O dia todo ele vinha na
pedra do rio escutar a terra com a boca e ficava impregnado de árvores” que o leitor
impregna-se, ele também de árvore e terra.
A diferença que se pode atribuir, talvez, à questão da sensorialidade na poética
em relação à arte visual é que, na poesia, o despertar dos sentidos começa no ato criador.
Antes que se possa incorporar a poesia, é preciso alguém que escreve com o corpo. Já
no caso da instalação, pode ser que o estímulo ao sensório fique reservado ao visitante,
sendo ele “o objeto último da própria obra, sem a presença do qual a mesma não
existiria em sua plenitude” (Bosco e Silva; Peccinini).
Associamos, por fim, a questão da interatividade das instalações a uma
interessante propensão da poesia manoelina a centralizar o humano. Ao mesmo tempo
em que valoriza as coisas ínfimas do chão e parece considerá-las mais sábias e
importantes que o homem, há uma forte tendência a humanizar todas elas, ainda que
seja para coisificar o homem logo em seguida. Com uma transformação tão cíclica e
constante, é difícil dizer qual o ponto de partida. Contudo, arriscamo-nos a compartilhar
um palpite de que o eixo regulador dessas trocas seja o humano, posto que tudo passa
por ele, ainda que seja para negá-lo. E encontramos, num aviso de Manoel de Barros aos
poetas futuros, algo que parece sustentar nossa hipótese: “Aos poetas é reservado
transmitir a essência. Vem daí que é preciso humanizar de você a natureza e depois
transfazê-la em versos”. (Barros
apud
PUCHEU, Alberto, 2005, p. 42).
A proposta é enxergar, num visitante essencial à instalação, o homem essencial
da poesia manoelina. E seguindo as ideias de transver e transfazer propostas
constantemente pelo poeta, transmudamos leitor em visitante e visitante em leitor a todo
o momento.
III
A ideia de que é preciso transformar visitante e leitor ajuda a elaborar o
pensamento segundo o qual exposição e livro não se anulam, nem se equivalem.