MANOEL DE BARROS EM INSTALAÇÃO: LEITURA DE DUAS
LINGUAGENS
I
Ana Luiza Rocha DO VALLE G - UNICAMP
Prof. Dr. Marcos Siscar
Resumo:
A poesia de Manoel de Barros tem como marca seu caráter imagético.
Escritor de uma suposta simplicidade, o poeta cria complexas relações por meio de
imagens poéticas que desafiam o raciocínio lógico e denunciam a herança surrealista do
pantaneiro. Feita do que ele chamou
desenhos verbais,
a poesia manoelina nos pareceu
um convite à exposição de arte. Assim, propusemos uma exposição literária cujo objeto
seja a obra
Gramática Expositiva do Chão
. O recurso da instalação artística pareceu o
mais interessante aos nossos propósitos, dado que suas características principais estão
extremamente afinadas com fundamentos da poética manoelina. Dentre os aspectos
essenciais desta forma de arte, destacamos: importância do apelo ao sensorial; aspecto
cenográfico; interatividade. Muito relacionados entre si, tais aspectos ligam-se, também
à poesia do chão. Se as instalações devem, por definição, despertar os sentidos – seja
um, dois ou todos os cinco – do corpo, Manoel de Barros escreve
com o corpo
1
.
Isolados ou em sinestesia, os sentidos são citados e evocados de maneira explícita em
praticamente todos os livros do poeta. Quanto ao aspecto cenográfico, alguns estudiosos
relacionam ou mesmo identificam a instalação à
environmental art
, cujo pressuposto é a
criação de uma ambiência na qual o visitante seja imerso. Assim faz a poesia manoelina
ao compor seus cenários oníricos: embora trabalhe com ações, Manoel de Barros tem
mais afinidade com o estático, com as transformações lentas e a criação de ambientes.
Por fim, vimos no aspecto interativo das instalações artísticas uma oportunidade de
trabalhar tanto a importância e a função do humano no universo criado por Barros
quanto do leitor em relação à sua obra.
Palavras-chave:
Manoel de Barros, instalações literárias, imagem poética.
“Sapo é um pedaço de chão que pula; Poesia é a infância da língua.
Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o
nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho
profundidades” (BARROS, 2010, p. 7).
Iniciamos nosso caminho pela obra manoelina atraídos por um curioso termo
utilizado pelo poeta pantaneiro: desenhos verbais. Num primeiro momento, essa
1
“Eu escrevo com o corpo. Poesia não é para compreender, mas para incorporar” (BARROS, 2010, p.
178)
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