Na Azeredo Coutinho
E ali vê-se
Outro espécime
Da “humanidade de cócoras”
(Marcel Mauss)
Uma louca
Discute consigo mesma
Hamlet aos brados
(“Ó minh´alma profética!”)
Rápido contorno
Este “ser ali”
Em alto regozijo
Do meu perfeito juízo (LEITE, 1993p. 81)
Mais uma vez, ao passar pela rua que habitualmente percorre depara-se com
outra figura estranha. Perplexo, mal a identifica como parte da espécie humana, pela sua
condição miserável e o nível de degradação. Para narrar a insólita cena de uma louca
discutindo consigo mesma, o poeta tece uma rede de intertextualidade em que os textos,
em vez de lançar o sublime sobre a humanidade, ou seja, em vez de elevar o humano,
como era a função essencialista da poesia, ao contrário, são fragmentos literários que
ficam contaminados, a exemplo do personagem shakespeareano que transita aos brados
pelo poema.
Conforme atesta Davi Arrigucci Jr., o
flâneur
tem propósitos específicos:
Em vários poemas [...] as andanças ao azar pelo Rio de
Janeiro, pelo Recife ou por outra cidade qualquer, podem levar de
encontro a uma infra-realidade social, a um "inferno alighiérico dos
pobres". A rua, o único lugar da experiência válida nas palavras de
André Breton, no tempo das vanguardas, é ainda o lugar do encontro
deste caminhante "só ignoto" com o outro, e de novo consigo mesmo
(ARRIGUCI JR., 2000, p. 1).
O eu lírico de Sebastião Uchoa Leite vê na cidade o que aos demais passa
despercebido, por estarem alienados e não se darem conta da gravidade de
acontecimentos que vão se tornando corriqueiros. Baudelaire criticava a alienação social