Página 42 - Anais do IV Seminário Leituras da Modernidade: entornos da poesia

desse modo, as cenas que elabora, senão estáticas, são ao menos muito lentas. São mais
cenográficas do que cênicas.
Para compreender melhor esse raciocínio, vale lembrar que uma das marcas da
poética manoelina, já muito estudada em sua fortuna crítica e reiterada pelo autor em
entrevistas, é a valorização do ínfimo. Assim, é bastante coerente que a gramática
expositiva do chão dê mais espaço aos cenários do que às cenas em si: é no ambiente
cenográfico que moram os detalhes. E a partir do momento em que o chão é colocado
em foco – seja o chão literal, em que estão as pedras, formigas, rãs de sua poesia; sejam
as notas de rodapé em que Barros nos apresenta poemas essenciais e independentes –
temos mais um exemplo de ocupação singular do espaço.
Outro ponto válido é que especificamente na Gramática Expositiva do Chão,
obra fundamental do nosso projeto expositivo, há uma ocupação peculiar do espaço da
página ao longo das seções do livro. Identificamos que o texto começa com listas de
substantivos concretos e, nesse momento, as palavras são dispostas em forma de blocos.
À medida que avançamos na leitura, vemos versos mais curtos e espaçados e a primeira
seção termina já bastante próxima da estrutura convencional de estrofes. Enquanto as
palavras parecem organizar-se no espaço, o nível de abstração contido nos versos
aumenta, até que na quarta seção do livro surgem os poemas de rodapé. Por fim, na
sexta e última seção, as palavras estão arranjadas em diálogos curtos e, visualmente,
bastante organizados. Mas, é uma organização de difícil entendimento dada a
complexidade e abstração contida nos diálogos.
2) Apelo ao sensorial
No campo da instalação, a ideia de apelo ao sensorial está fortemente ligada ao
elemento da interatividade , como veremos em seguida. Entre as muitas desconstruções
que a instalação artística propôs, está a ideia de que ela não é uma arte para ser vista,
admirada passivamente como o eram as obras tradicionais. Assim nos esclarecem
(THAMES & HUDSON, 1994): “[installations] are perceived „in time‟ as they can not