Pretende-se o livro como ponto de partida para a elaboração da exposição e esta como
obra de arte que de alguma forma convida à leitura da poesia.
Nessa mistura de origens e destinos, identificamos mais uma justificativa para
nossa escolha pela instalação artística que é, simultaneamente, um problema de tal
opção. Ao contrário da maioria das expressões artísticas que poderíamos ter escolhido
em seu lugar, a instalação permite uma interferência maior de um não-artista no seu
processo criativo. Para expor fotografias, desenhos ou pinturas, por exemplo, não nos
caberia estabelecer senão a disposição das obras no espaço, no máximo o suporte de
impressão, o material usado na pintura ou no desenho. Por outro lado, a instalação
permitiu diretrizes: é possível atuar de fato em conjunto com os artistas e propor um
roteiro fundamentado na pesquisa literária ainda no período de criação, que é, para nós,
momento crucial.
Mas, o que poderia nos parecer ideal entra em conflito com a autonomia da obra
intitulada instalação artística. A questão conceitual de uma obra cuja proposta deve ser
criar um signo novo e discutir conceitos plásticos tende a ficar comprometida numa
situação em que a literatura é protagonista. Chegamos ao impasse, ainda não
solucionado pela pesquisa bibliográfica, de que uma instalação literária talvez não possa,
por definição, ser uma instalação artística.
Entre os conceitos de cenografia, instalação expográfica e propostas de rotas
alternativas de investigação, optamos por voltar ao nosso campo de estudo. Seja qual for
o nome que se dê em arte, nossa proposta é de fato literária em primeira instância. E,
compreendendo a literatura como forma de arte, entendemos que nossa instalação
literária pode ser artística por apresentar uma questão estética, ainda que talvez não o
seja em seu sentido pós-conceitual e minimalista. O talvez fica em função das
discordâncias e hesitações entre os estudiosos da própria arte:
Embora já bastante discutida, [a Instalação] conta ainda com frágil
definição e com muitos pontos a serem pesquisados de forma incisiva.
Como boa parte da produção artística contemporânea, a Instalação não
permite rotulação única, por seu princípio experimental. (Bosco e
Silva; Peccinini)