o entendimento do espírito./
Eu escrevo com o corpo/Poesia não é para
compreender mas para incorporar
/Entender é parede: procure ser uma
árvore. (BARROS, Manoel, 2010, p. 178, grifos nossos).
Notamos por esses versos do livro Arranjos para Assobio que a poesia
manoelina é assumidamente sensorial. Escreve-se com o corpo e é com o corpo que se
deve ler, incorporar. Em Manoel de Barros, os sentidos são mencionados, misturados e
desafiados a todo momento. Desde a cor “entre amarelo e gosma” de uma tela que se
descreve até o “cheiroso som de asas no ar” que antecede a fala de um pássaro, a poesia
do chão nos desperta os sentidos a todo o momento, ainda que apenas de modo
imaginário, inventado. E para assegurar que esse viés de invenção não invalida o apelo
sensorial da obra poética frente ao da exposição, recorremos mais uma vez aos versos
do mato-grossense: “Tudo o que não invento é falso” (BARROS, 2003).
A realidade da poesia é uma construção do imaginário, e é dentro desta proposta
que Manoel aproxima-se da instalação no despertar de sentidos do leitor.
3) Interatividade
Se no campo da arte é o apelo ao sensorial que se conecta mais diretamente com
a interatividade, na poesia manoelina é o ambiente cenográfico que nos encaminha para
tal tema. Temos aqui, então, um elo entre todos os elementos, a instalação e a poesia: o
leitor-visitante. Chamamos assim a todo aquele que lê instalações e visita poesias, e
vice-versa.
O ambiente cenográfico da poesia, como dito anteriormente, aproxima-se da
estaticidade e exige extrema atenção aos que queiram ver os movimentos dos habitantes
do chão. Diante do cenário montado, cabe ao leitor transitar por entre as figuras de
palavras e criar – quase sozinho – o movimento que falta. E metamorfosear-se em
árvore, em cor, em pássaro e em texto: assim como o fazem todos os personagens de