Página 28 - Anais do IV Seminário Leituras da Modernidade: entornos da poesia

sendo necessário pensar além das expectativas atuais e se esforçar para construir novos
caminhos.
Considerações finais
Como um campo facilitador, o digital reduz procedimentos heterogêneos de
mídia, convertendo-os a números integrados. O digital tende a esconder sua própria
materialidade numérica e manipula uma diversidade de meios na projeção de
configurações midiáticas complexas. Isto significa que, como conjunto complexo de
meios híbridos, a poesia digital pode, no final, não passar de uma intricada simulação
midiática. No entanto, essa simulação pode sugerir também que os meios de
comunicação encontram-se em processos fluidos. Dessa forma, as organizações
midiáticas, através das quais a poesia digital transita, ensinam algo sobre a identidade
dos novos meios, que podem ser tanto o mero resultado provisório e instável de uma
arqueologia da escrita como uma espécie de midialogia interprojetiva.
Ao enfatizar a presença de muitos meios, em vez da forma como esses meios
de comunicação interagem e integram um ao outro, grande parte dos estudos sobre
hipermídia limitam-se a conceituá-la como um meio tradicionalmente híbrido, dando
pouco destaque ao grande potencial que a hipermídia tem para a geração de sentidos, no
que se inclui a poesia digital. Palavras tornam-se cores, cores convertem-se em palavras,
textos são edificados em espaços e sons são espacialmente ouvidos. É no contexto
dessas experiências sinestésicas que a poesia digital ganha força e complexidade.
Pode-se afirmar que a Realidade Aumentada, além de suas propostas
tecnológicas, atingiu dentro do campo da arte grande relevância em relação a outras
áreas do conhecimento. Assim, frente à definição mais canônica do conceito, os
desenvolvimentos decorrentes de obras dos artistas de vanguarda contribuíram para
novas visões que fizeram com que a RA alcançasse novas perspectivas e considerações.
Por fim, a RA propõe importantes perspectivas dentro do campo da arte. Nesse
sentido, a experimentação com o real e o fictício oferece percepções visuais nas quais os
limites de cada “mundo” ficam inter-relacionados, permitindo também uma nova
interpretação criativa. Obra real e obra digital complementam-se, mais ainda, acoplam-
se estruturalmente para originar uma obra aumentada, paralela a ambos os espaços,
fruto da diferença que faz uma diferença.