que o poeta elegeu essa característica, admitimos que, não obstante, esse uso é anulado
pela expressão “dizem que”, a qual, no mais das vezes, nas falas quotidianas, significa,
numa paráfrase, que “costumam dizer algo sobre determinado assunto”, mas o poeta não
demonstra estar convicto dessa verdade proclamada pelo senso comum, daí decorrendo,
de novo, o viés dubitativo por que somos levados à interpretação desse beliano poema.
Enfim, Aristóteles, em sua
Poética
(
IX
,
1452
a), versa sobre a existência dalguma
aplicação catártica, vinda das sensações de
fo/boj
(“terror”) e
e)/leoj
(“piedade”), que o
público espectador teria ao assistir a uma encenação trágica. Porém, temos uma hipótese
de que esse recurso, a princípio restrito a tragédias gregas, poderia ser explorado em um
poema religioso cristão, já que lhe interessaria, quiçá, um resultado purificador, embora
numa perspectiva diversa da adotada pelas religiões pagãs, ou pelas peças trágicas nelas
inspiradas. Nisso, observamos que, nalguns exemplares dos
corpora
poéticos de Camões
e Ruy Belo, ocorrem exortações que o eu lírico faz com o intuito de provocar, num dado
instante intrapoético, uma necessária conscientização em seu interlocutor, mediação que
suscitaria as anímicas catarses, sendo essa uma aplicável releitura, dos gêneros textuais
clássicos, com a finalidade de notar-se algum intercâmbio de características, tradicional
e amplamente, utilizadas nas tragédias gregas dos tempos euripídico-sofoclianos, assim
como novas formas de lermos e interpretarmos a poesia cristã, que se permita entremear
pelo compósito oriundo dos gêneros lírico e trágico – apesar de não ser isso aplicável às
obras líricas de quaisquer períodos, senão àquelas vindas do advento e recrudescimento
do Cristianismo, dentro de cujas doutrinas a realização de constantes purgações se torna
imperiosa e cotidiana premência.