No que alude às redondilhas maiores
Sôbolos rios que vão
, reportam-se elas a uma
“[...] extensa glosa ao Salmo
136
, da Bíblia, atribuído ao rei Davi [...]” (FERNANDES,
2010
, p.
68
), assim como é imprescindível admitir que “[...] é importante que a memória
não se canse de voltar a Sião, porque também simboliza [...] uma outra realidade, nunca
vista, mas presente na Ideia, não pela memória, mas pela reminiscência” (
idem
, p.
73
), e,
com tais explanações, a
scholar
aponta-nos outra maneira de ver o poema, mediada pelas
interpretações que, definitiva e duplamente, desfazem aquelas suposições das que vimos
discordando, provando-nos que, ao mesmo tempo, as afirmações corroboram influência
religiosa no lirismo camoniano, bem como os traços neoplatônicos, visto que presentes
estão, nos versos
204
e
205
do poema, assim dispostos: “Não me lembras na memória, /
senão na reminiscência”, vocábulos esses (“memória” e “reminiscência”) recorrentes na
filosofia anímica de Platão de Atenas.
Como dizer que um soneto da envergadura dum “Como podes, ó cego pecador”,
que infrarreproduzimos, não se deve incluir no elenco de poemas religiosos de Camões?
Antes de o discutirmos, todavia, leiamo-lo:
Como podes, ó cego pecador,
estar em teus errores tão isento,
sabendo que esta vida é um momento,
se comparada com a eterna for?
5 Não cuides tu que o justo Julgador
deixará tuas culpas sem tormento,
nem que passando vai o tempo lento
do dia de horrendíssimo pavor.
Não gastes horas, dias, meses, anos,
10 em seguir de teus danos a amizade,
de que depois resultam mores danos.
E pois de teus enganos a verdade
conheces, deixa já tantos enganos,
pedindo a Deus perdão com humildade.
De todos os parcos poemas havidos como líricos camonianos (SANTOS,
op
.
cit
.,
p.
708
-
709
), são reputados, “[...] acertadamente como cristológicos [...]”, estritamente os
sonetos “Para se namorar do que criou”, “Porque a tamanhas penas se oferece”, “Desce
do Céu imenso Deus benigno”, “Dos Céus à terra desce a mor beleza”, tal como a elegia
“Se quando contemplamos as secretas”, conjunto esse que, notoriamente, põe à margem
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