mencionados escritores, aspectos que constituem importante objeto de perscrutação para
a Crítica Literária, que, bem entendido, “[...] é uma arte antiga” (BLOOM,
1994
, p.
17
).
Principiemos pela asserção de que, contrariando a opinião de muitos
scholars
dos
textos líricos de Camões, esse poeta escreveu, sim, muitos poemas religiosos, afirmação
que comprovaremos no decurso de nossas pesquisas, na tentativa de recobrar as devidas
justiças que competem ao “cavaleiro fidalgo da casa real” (CUNHA,
2011
, p.
634
), pois
que, diferençando-se os poemas camonianos, nos quais existem assuntos religiosos, das
demais produções da lavra desse poeta, não enxergamos razões algumas para deixarmo-
-nos persuadir pelos argumentos de que
num século em que a poesia religiosa ou de inspiração religiosa e
espiritual parece ser uma constante, Camões representa, de certo
modo, alguma exceção, no sentido em que, dada a amplitude da sua
obra, a poesia deste cariz não se reveste de uma presença marcante,
sobretudo se tivermos em conta que as famosas redondilhas
Sôbolos rios
que vão
, embora comentário de salmo, na continuidade de uma prática
comum nos séculos XVI e XVII – que, de muitas formas, se
prolongará por Setecentos – se instituem, embora sem abandonar a
matriz bíblica, mais como poesia de
meditatio
que propriamente como
poesia religiosa ou espiritual. Talvez por isso mesmo, as escassas
composições deste teor que têm vindo a ser incluídas, ainda que não
unanimemente, no cânone, não tenham merecido muita atenção [...]
(
SANTOS,
2011
, p.
708
).
Diz, a autora do transcrito excerto, que o poema
Sôbolos rios que vão
, de Camões,
não passa de uma “poesia de
meditatio
”. Ora, interpretar assim esse
opus
camoniano nos
parece um daqueles argumentos que se denominam
reductio ad absurdum
, assumindo-se
que “[...] estabelecem sua conclusão mostrando que, presumindo-se o contrário, fica-se
com um resultado absurdo: algo contraditório ou tolo. Nada mais resta a fazer [...] senão
aceitar a conclusão” (WESTON,
2009
, p.
62
). Ademais, por que razões escolheria fazer,
o Poeta, “meditações poéticas” tão somente pelo intermédio das matrizes judaicas? Não
haveria outras em que se poderia ele debruçar para conceber suas elucubrações? Bastas-
sem-lhe, quiçá, as sugestões platônicas – ou ficinianas, a depender da fonte (in)direta de
que se valeu o bardo português ao compor a sua
magna opera
–, nas quais existem temas
filosóficos demasiadamente diversos e complexos, que concederiam vitalícios labores e
matérias para sobejas “meditações”.
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