em se tratando da sua vasta obra, a
Theologia Platonica
, em que o pensamento de Platão
é conformado aos preceitos cristãos partícipes dos séculos humanístico-clássicos.
Doravante, visamos à exposição de incipientes noções que obtivemos de leituras
e análises por nós empreendidas, até este momento, atinentes aos poemas com os quais
estamos realizando nossos estudos, bem como acerca das obras correlatas ao lirismo de
Camões, à poesia contemporânea, à fortuna crítica atinente aos poetas ora apreciados, às
inter-relações de poesia e religiosidade, ao estudo comparado dos poemas de Ruy Belo e
Camões, e, por fim, ao contexto estético e cultural em que se inserem um e outro autor –
assuntos esses de que nos apropriamos como fundamentação teórica, considerando que
o Cristianismo é o tema fulcral de nosso trabalho, na medida em que o viés pelo qual se
fará isso concentra-se no cotejamento entre os textos poéticos camonianos e belianos –,
de sorte que, da sucinta antologia poética que fizemos, para a concepção deste labor, ora
mencionamos duas poesias, respectivamente, de Camões e Ruy Belo: a “Como podes, ó
cego pecador”, e o “Nós os vencidos do catolicismo”, uma vez que o principal escopo a
que visamos, a uma primeira leitura dos precitados textos, é verificar a possibilidade de
existência, na lírica religiosa desses literatos, de uma plenitude da
praesentia christiana
,
mormente em se tratando do Cristianismo de verve católica, a partir do qual julgaremos
a confirmação (ou refutação) da presença cristã –
in
stricto sensu
, pois que,
in
lato sensu
,
isso já acontece – naquelas expressões, em posse do que, acreditamos alcançar melhores
entendimentos sobre a transfiguração, em signos poéticos, da eleição de temas cristãos.
À medida que (re)lemos os poemas camonianos de gesto religioso, questionamo-
-nos acerca de certas situações históricas as quais, porventura, hajam sido relevantes no
contexto de concepção poética em que inserto estava Camões, uma vez que, reportando-
-se ao décimo sexto século ocidental, cremos que não se poderia furtar aos assédios das
doutrinas filosóficas que havia naquele momento, crença essa cujo robusto sustentáculo
nós encontramos nestes dizeres, os quais preconizam, veementemente, que
[...] pretender fazer do século XVI um século cético, um século
libertino, um século racionalista e glorificá-lo como tal: o pior dos
erros e das ilusões. Pela vontade de seus melhores representantes, ele
foi, bem ao contrário, um século inspirado. Um século que, sobre
todas as coisas, procurava primeiro um reflexo do divino. Trata-se de
estética? Quantos fervores secretos no tempo de uma Renascença feita
de platonismo! [...] Trata-se de filosofia? Mesma coisa. Eles
raciocinam, por certo. E às vezes mais do que o razoável. Digamos:
até a desrazão [...]
(FEBVRE
op
.
cit
., p.
392
).
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