caminho, a verdade e a vida [...]”, excerto em que, apesar de os substantivos “caminho”,
“verdade” e “vida” não se haverem grafado com as letras capitais em maiúsculo, passam
a manifestar, pela
contaminatio
literária, os sentidos condizentes, unicamente, ao Cristo,
razão por que os citados nomes poder-se-iam grafar, intracontextualmente, com versais.
O excurso do parágrafo anterior pretende servir de proêmio para os comentários
ao poema “Nós os vencidos do catolicismo”, de Ruy Belo, sobre o qual, à quase inteira
semelhança do que acontece no soneto camoniano do qual tecemos considerações, dá-se
uma importante afirmação que permeia a leitura desse beliano escrito – e caracterizável
como sendo seu
leitmotiv –
, o do “sentimento de derrotismo”, em que vemos sínteses do
h)//qoj
(“caráter”) do eu poemático criado por Belo, do qual, pelo menos nesse seu poema
– estruturado em quatro quartetos (podendo-se ler, também, como duas oitavas [embora
o ressalvemos, visto não ocorrer tamanha regularidade de rimas finais que se sustentem
em oito versos, como acontece, por exemplo, n’
Os Lusíadas
de Camões]) decassílabos,
estruturados rimicamente segundo o padrão
abab
(
-ismo, -ana, -ismo, -ana
),
cdcd
(
-é, -amos,
-é, -amos
),
ebeb
(
-ora, -ana, -ora, -ana
) e
dfdf
(
-amos, -aste, -amos, -aste
) –, apresenta-se como
alguém destituído das crenças, outrora sentidas, no Cristianismo católico.
Mas poucos elementos há, nesse poema, que nos deem a constância pertinente às
intenções ou aos pensamentos de seu(s) interlocutor(es), pois há, nele, trechos nos quais
ora se assevera que “não é que no mais fundo não creiamos”, ora que “nesta vida é que
nós acreditamos”, ofertando-nos, assim, uma estranha dubiedade que, provavelmente, se
origina nos âmagos anímico e mental desse eu lírico, o qual, no mais das vezes, utiliza o
pronome reto “nós”, ali caracterizado como uma espécie de “plural majestático”, o qual,
sem embargo, é passível de se ler e entender pelo prisma de uma recorrente significação
gramatical, isto é, aplica-se-lhe o sentido de “pronome reto que marca a primeira pessoa
discursiva plural” – aliás, cada vez menos usado no quotidiano da fala brasileira.
Deus, conquanto implicitamente, aparece em “Nós os vencidos do catolicismo”,
e isso se dá quando lemos o verso “e no homem que dizem que criaste”, havendo, nisso,
um “tu” elíptico, sujeito desinencial que identificamos com o Criador, pela utilização do
verbo “criar”, conjugado na segunda pessoa do singular do pretérito perfeito indicativo
– algo bastante curioso, porque o modo indicativo, como preferem os normativistas, diz
respeito a uma importante característica para a compreensão verbal, a de “produzir uma
ideia de certeza” a qual seja partícipe da ação do verbo. Entretanto, ao mesmo tempo em
1...,7,8,9,10,11,12,13,14,15,16 18,19,20,21,22,23,24,25,26,27,...445