a essa hipótese, ele teria lido a
Vulgata Editio
; da segunda, haveria lido as traduções de
alguns Livros do “Antigo Testamento”, encetadas pelo rei português Dom Dinis (
1261-
1325
); da terceira, teria o poeta auferido alguma versão em Espanhol, língua a qual, por
causa da parecença com o Português, poucos empecilhos de compreensão representaria
a ledores lusitanos de então – desde, é claro, que fossem, minimamente, (semi)letrados.
Não obstante as hipóteses que supraexpusemos, chamou-nos a atenção o estudo
dum outro camonista que, num capítulo de seu livro, aponta-nos não uma probabilidade
tradutória da
Bíblia
em língua portuguesa – consoante nós discutiremos oportunamente
–, porém,
au
contraire
e não sem muitas surpresas, em línguas hebraica e latina, porque
aquele crítico crê que “[...] três pistas se abrem à nossa frente, todas relacionadas com a
Bíblia Hebraica. Pois Camões conhece e cita várias vezes o Antigo Testamento, grande
corpus
da literatura hebraica clássica” (CARREIRA,
1982
, p.
118
). Logo após, afirma ele
que, “[...] onde a base de confronto é mais segura, como no
Salmo
137
4
, é a
Vulgata
que
Camões lê [...]” (
idem
, p.
119
). Depois, afirma que “[...] a melhor prova de que Camões
lia o Antigo Testamento pela
Vulgata
vem do já aduzido
Sôbolos rios
. A adesão ao texto
latino é tão firme que algumas adaptações roçam pelo latinismo” (
idem
, p.
121
). Mantém
suas ideias ao dizer que, “por ignorar o Antigo Testamento hebraico, e manejar, cândida
e familiarmente, a
Vulgata
latina, é que Camões chegou mesmo a saltar do cânone [...]”
(
idem
, p.
124
). Conseguinte e sumariamente, chega à conclusão de que Camões “[...] em
latim lia sua
Bíblia
. À luz do Novo entendia o seu Antigo Testamento, alargado a limites
canônicos dos cristãos [...]” (
idem
, p.
131
).
Porque, ainda, nossas pesquisas são incipientes, não nos debruçaremos, por ora,
sobre aprofundadas interpretações poéticas as quais advenham de reiteradas leituras dos
analisandos poemas, considerando que “[...] analisar é fazer uma decomposição da obra
e sua posterior remontagem, jamais perdendo de vista a totalidade. É levantar elementos
principais dos diversos planos, que compõem o sistema da obra, [...] sem perder de vista
4
No tocante ao chamado, por José Nunes Carreira, de “Salmo 137”, quereremos tecer, oportunamente,
algumas discussões a esse respeito, pois que, segundo o que vimos observando em nossas investigações,
não é unânime a denominação desse belíssimo Salmo da
Bíblia Sagrada
, uma vez que, enquanto uns
preferem assim se referir àquele texto, há quem, contrariamente, prefira chamá-lo de “Salmo 136”. É
claro que, à primeira leitura, entende-se que a distinção, em princípio, parece reduzir-se às distinções
entre as versões protestante e católica da
Bíblia
, mas o texto de Nunes Carreira faz-nos pensar que deva
haver explicações que melhor esclareçam isso.
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