Página 58 - Anais do IV Seminário Leituras da Modernidade: entornos da poesia
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longo dos anos, observa-se que ocorreu uma modificação muito intensa na produção dos
folhetos de feira bem como na formação de seus poetas.
Enquanto o poeta Leandro Gomes de Barros era semiletrado, Gonçalo
Ferreira da Silva, nosso contemporâneo, possui formação acadêmica, tendo cursado
Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-RJ. O poeta de
Santa Teresa tem procurado dar um tratamento mais erudito à construção de seus
versos, embora ainda utilize muitos esquemas e clichês cultivados há décadas pelos
pioneiros na arte de versejar.
No dia 23 de maio de 2012 realizei uma entrevista com Gonçalo Ferreira
da Silva por ocasião do VI Colóquio Bakhtiniano realizado na UNESP, campus de
Assis. Naquela ocasião, falávamos da presença do riso carnavalesco bakhtiniano nos
versos satíricos produzidos pelos poetas de cordel durante a Primeira República. Com
os dados da entrevista pude reunir elementos esclarecedores do fazer literário de
Gonçalo, o que ajudou a traçar um perfil de seu público-leitor.
Atualmente, o público de Gonçalo é dividido basicamente em dois
grupos: pesquisadores de cordel – professores universitários e pós-graduandos – que
frequentam geralmente a loja da ABLC (Academia Brasileira de Literatura de Cordel)
em Santa Teresa, no Rio de Janeiro, e os assíduos frequentadores da Feira de tradições
nordestinas, também conhecida como Feira de São Cristóvão.
Várias questões foram levantadas durante a entrevista e, dentre elas, o
fato de os leitores de Gonçalo apresentarem um interesse profundo pela leitura de seus
folhetos – sobretudo dos noticiosos. E a pergunta surge exatamente porque no mundo
globalizado no qual estamos inseridos, no qual a rapidez da circulação de notícias e o
acesso à informação estão restringindo até mesmo os meios de comunicação mais
antigos e populares, como os jornais impressos e as revistas, por exemplo.
Entendemos que a forte procura pelos folhetos noticiosos de Gonçalo
Ferreira da Silva não esteja ligada apenas à difusão de notícias, porque esta necessidade
seria facilmente sanada por outros meios de comunicação e a partir disso questionamos
a intenção desses leitores na busca pelos folhetos.
Ao contrário do proposto pelos meios globalizados de comunicação, os
folhetos sobre fatos circunstanciais de Gonçalo são carregados de opiniões que
