Tomando por eixo da análise comparativa a caracterização da arte
simbolista/decadentista, a conclusão do trabalho deverá apontar aspectos relevantes no
modo como a poesia de Al Berto dialoga com o imaginário da poesia de Pessanha.
Análise
Camilo Pessanha –
Clepsidra e outros poemas
Caminho
1
Tenho sonhos cruéis, n´alma doente
A
2
Sinto um vago receio prematuro.
B
3
Vou a medo na aresta do futuro,
B
4
Embebido em saudades do presente...
A
5
Saudades desta dor que em vão procuro
B
6
Do peito afugentar bem rudemente,
A
7
Devendo, ao desmaiar sobre o poente,
A
8
Cobrir-me o coração dum véu escuro!...
B
9
Porque a dor, esta falta d´harmonia,
C
10
Toda a luz desgrenhada que alumia
C
11
As almas doidamente, o céu d´agora,
D
12
Sem ela o coração é quase nada:
E
13
Um sol onde expirasse a madrugada,
E
14
Porque é só madrugada quando chora.
D
O título do poema de Pessanha,
Caminho
, remete ao olhar em frente, ao que
pode vir, a, por exemplo, uma estrada, uma rua. Tal caminho representa a própria vida,
o percurso dos dias, envolvidos por sensações e sentimentos vários.
O poema
Caminho
tem sua forma ainda presa aos moldes clássicos, fato
perceptível na estrutura de soneto, no sistema de rimas, com rimas intercaladas nos
quartetos e interpoladas nos tercetos.
Valendo-se da forma clássica, com o soneto, Pessanha, nos dois quartetos,
descreve uma dor existencial de cunho particular, isto é, o eu-lírico descreve seu drama
existencial que perpassa o caminho de sua vida, incluindo passado, presente e futuro.
Posteriormente, nos dois tercetos, o poeta amplia esse sentimento ao descrever a dor
como uma falta de harmonia, embora necessária aos corações humanos, demonstrando
que o sofrimento do eu-lírico é recorrente no percurso de outras vidas.
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