pintura. Esta fase foi representada pela publicação do “plano-piloto-para-a-poesia-
concreta”, no nº 4 de Noigandres. Assim, os quatro poetas fizeram doze poemas-
cartazes que, juntos, formavam uma poesia anônima, coletiva, reduzida a
denominadores estilísticos comuns, procurando realizar a meta mallarmeana do
“desaparecimento elocutório do eu”; assim, quem falava era o próprio poema.
A partir de 1961, Haroldo começa a afastar-se do concretismo. Neste ano,
escreveu o poema “Servidão de Passagem”, influenciado pro Maiakovski - “sem
forma revolucionária não existe arte revolucionária” – e por Brecht – “novos
conteúdos exigem novas formas”- poetas que traduziu nesta época.
Dois anos depois, começou a escrever um conjunto de textos,
Livro de Ensaios:
Galáxias
, onde voltou a mostrar sua carga barroquizante, utilizando-se,
microestruturalmente, de paranomásias, permutações e proliferações fônicas, técnicas
de composição da poesia concreta. Na sua macroestrutura, Haroldo inspirou-se na
música contemporânea. Neste livro, Haroldo buscava abolir os limites entre poesia e
prosa, no sentido epifânico. O leitor, neste livro, é praticamente um viajante que é
convidado a explorá-lo como se folheasse o universo a partir de um ponto
privilegiado. Como definido por Severo Sarduy: “[...]galáxia em que não existe
centro, nem sequer por sua ausência, mas a cada linha uma criação fonética autônoma
a partir do nada.”.
Assim, apresenta-se Haroldo de Campos, além de poeta, como crítico e tradutor.
Ele definia-se como poeta, tendo seu ponto de partida e de chegada à poesia,
chegando a dizer que toda sua produção, e até mesmo seu papel docente, nasceu a
partir de sua vida na poesia. Sua transcriação influenciava muito sua poética, afinal,
como dito anteriormente, seus poemas apresentavam fortes elementos daqueles
autores que ele estava transcriando na época. Assim como só pensava na tradução
como transcriação por ser poeta, ele mesmo declarou que estudava a trancriação desde
o começo de seu percurso poético.
Haroldo dizia que o trabalho de transcriação é algo concentrado, que deve ser
feito em fragmentos, pois busca traduzir todos os elementos do poema (o próprio
signo: propriedades sonoras, a imagética visual,etc) e não só as palavras. Porém,
Haroldo achava a tradução expansiva necessária, onde as palavras do poema são
totalmente traduzidas, mas outras características são deixadas somente no original,
para que o leitor consiga entender o enredo do poema e, com a tradução concentrada -
a transcriação -, o leitor possa entender o clima do poema, a poesia. Sendo assim,
1...,65,66,67,68,69,70,71,72,73,74 76,77,78,79,80,81,82,83,84,85,...445