da entrega do poeta ao culto do exótico, da linguagem pura, como fuga do mundo
destituído de sentido.
O simbolista parte em busca do que não conhece, do que se oculta, daquilo que
constitui a essência das coisas e despreza o aparente, o visível, o óbvio. Concebendo o
mundo assim, o poeta descarta a ideia de que os objetos do real tenham sentido em si.
Estes não passam de símbolos da Divindade, do mundo espiritual e, então, cabe ao
homem decifrá-los para desvendar o mistério do Universo. A relação entre o mundo
material e o espiritual recebe o nome de correspondências. Para Baudelaire, o poeta
deve ser um decifrador de símbolos, enquanto para Rimbaud o poeta se “faz vidente por
um longo, imenso e racional desregramento de todos os sentidos”. “O desregramento a
que se entrega o poeta é uma tentativa de recuperar a consciência primitiva, que a
civilização ocultou no instante em que instituiu a fatal e definitiva separação entre o
homem e as coisas. Ora, é esta consciência anterior ao
logos
que possibilitará ao homem
decifrar os símbolos do Universo”.
Como diz Anna Balakian (1985, p. 20), “toda poesia, desde o começo do
movimento romântico, apossou-se do terreno da mística como uma espécie de substituto
para a religião”. Os poetas simbolistas, logo, buscavam configurar um universo de
correspondências com o infinito.
Embora seja um poeta contemporâneo, mergulhado em questões sociais e
ideológicas muito diferentes das que configuravam o contexto histórico em que viveu
Camilo Pessanha, a obra do poeta Al Berto, reunida pelo autor em 1987, no livro
intitulado
O medo
, apresenta uma série de elementos típicos do imaginário simbolista e
decadentista, ainda que seja, muitas vezes, com objetivos e conotações diferentes.
O próprio título do livro de Al Berto permite vislumbrar aspectos instigantes do
universo simbolista e decadente. Segundo Maria Rita Kehl (2007, p. 88), “o medo é
uma fonte do mistério e do sagrado. O medo pode ser provocado pela percepção de
nossa insignificância diante do universo, da fugacidade da vida, das vastas zonas
sombrias de desconhecido”. Portanto, a poesia simbolista, que visava ao símbolo e ao
implícito, à menção de sentimentos e não à pura descrição, pode ser percebida em
muitos momentos da obra albertiana, sobretudo se levarmos em consideração essa
temática do medo, que sugere, como Maria Rita Kehl evidencia, sensações relacionadas
ao mistério e ao sagrado, que são recorrentes na estética simbolista.
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