constituem outra rima, demonstrando, mais uma vez, o sofrimento associado ao tempo
presente. Em suma, percebe-se no poema palavras que se relacionam e nos indicam a
seguinte ideia: de que o caminho sendo percorrido, a mudança de tempo que o sujeito
passa, não modifica esse sentimento pessimista de dor e solidão que é parte constituinte
do caminho e do próprio ser.
No verso 7 há uma metáfora construída pela expressão “desmaiar sobre o
poente” que representa o sono, o momento de adormecer. Além de pensarmos o
caminho,
como a vida, há outras trajetórias indicadas pelas imagens do poema: o
caminho que transforma dia em noite, sol em escuro.
A escuridão e a madrugada, presentes no poema, aparecem como símbolos que
dizem respeito à solidão e à dor.
Percebe-se,
claramente,
a
presença
de
características
do
simbolismo/decadentismo na representação do poema, que não explicita o que seja esse
caminho, que não é direto, mas que cria imagens para que se possa pensar na vida como
essa trajetória e que tem o medo como sentimento propulsor desse eu-lírico; fazendo
com que o futuro seja um enigma, um mistério e algo a ser desvendado, exatamente
como os simbolistas apreciam trabalhar a linguagem. O medo, a alma dolorida, a
solidão e escuridão que a dor causa na alma humana são sentimentos de decadência
desse ser, que chega a preferir a dor à decifrar o enigma e ele imposto.
Al Berto –
O medo
OS DIAS SEM NINGUÉM
4
1
dizem que a paixão o conheceu
2
mas hoje vive escondido nuns óculos escuros
3
senta-se no estremecer da noite enumera
4
o que lhe sobejou do adolescente rosto
5
turvo pela ligeira náusea da velhice
6
conhece a solidão de quem permanece acordado
7
quase sempre estendido ao lado do sono
8
pressente o suave esvoaçar da idade
9
ergue-se para o espelho
10
que lhe devolve um sorriso tamanho do medo
11
dizem que vive na transparência do sonho
12
à beira-mar envelheceu vagarosamente
1...,60,61,62,63,64,65,66,67,68,69 71,72,73,74,75,76,77,78,79,80,...445