As rimas construídas pelo poeta, em sua maioria do tipo pobre, contribuem para
a evidenciação da temática do poema. Percebe-se, ao longo dos versos, um eu-lírico
sofrido, tomado por uma dor de cunho existencial, que não é desencadeada por nenhum
motivo palpável, como a morte, o amor não correspondido ou a perda. Na primeira
estrofe “doente” e “presente” rimam, contribuindo para a ideia de que o momento atual
da vida do eu-lírico, embora seja passível de saudade, é um momento sofrido, no qual
sua alma encontra-se doente, assolada por essa dor. Em relação a sua própria trajetória,
o eu-lírico menciona que tem sonhos cruéis que ele mantém em sua alma. Entretanto, o
sentimento deste ser é o receio, que o faz caminhar com medo pelo estreito caminho que
o levará ao futuro. Percebe-se que, ao mesmo tempo em que há o medo, o saudosismo
aparece no poema, no sentido que essa trajetória a ser percorrida até o futuro o faz sentir
saudade do presente, que logo pode se transformar em passado, na medida em que o
caminho for, completamente, percorrido.
“Prematuro”/“futuro”, ainda no primeiro quarteto, embora se contraponham em
relação ao significado, os dois termos revelam que as angústias desse ser existem em
todos os momentos, o medo é antecipado, inclusive o que se dirige ao futuro, ao incerto.
Portanto, na primeira estrofe o eu-lírico descreve sua angústia em relação ao
caminho que deve percorrer e se declara um sonhador, embora viva num momento de
dor e medo, do qual, apesar de tudo, sente saudades.
No segundo quarteto, “procuro” e “escuro” constituem uma rima que nos
permite depreender que embora procure se livrar da dor que sente, o escuro, o
enigmático, o sofrimento são a grande resposta a que chega o eu-lírico. A descrição de
sentimentos prossegue e percebe-se que o saudosismo se refere ao presente e a dor que
permeia esse momento, da qual tenta se afastar. Dor esta que se agrava com o anoitecer,
como se percebe nos seguintes versos: “Devendo, ao desmaiar sobre o poente”/ “Cobrir-
me o coração dum véu escuro!...” (versos 7 e 8). O mesmo véu que cobre a noite cobre
seu coração e o faz sombrio, tomado pela dor e pelas incertezas e medos.
No primeiro terceto, ainda falando sobre a dor, o eu-lírico a compara com uma
falta de harmonia, a qual se pode entender como um desconcerto, uma inadaptação ao
mundo, à sociedade e a si mesmo. Além disso, a dor é a luz desregrada que ilumina as
almas, a luz que ora é forte, ora é fraca, mas sem a qual ninguém pode sobreviver: “Sem
ela o coração é quase nada”/ “Um sol onde expirasse a madrugada”/
Porque é só
madrugada quando chora” (versos 12, 13 e 14). Isto é, sem essa luz e consequentemente
a dor, que gera a luz, o coração é quase nada. Por fim, nos tercetos “agora” e “chora”
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