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da empresa ferroviária, como oficinas mecânicas e forjarias. Além de proporcionarem
a industrialização, o autor também relaciona estas indústrias como locais de
especialização de mão de obra, fator importante para o desenvolvimento industrial
(TRUZZI, 1986, p. 195).
Como nosso trabalho tem como fonte principal os periódicos da cidade de
Botucatu na década de 1930, faz-se necessário um conhecimento sobre o fazer
jornalístico do período bem como algumas pontuações metodológicas que tomam o
periódico como objeto de reflexão e como fontes históricas.
Com o intuito de aprofundar nossa leitura sobre a imprensa no Brasil durante
os primeiros anos do século XX, tomamos a leitura de Tania Regina de Luca (2008a).
A autora caracteriza o século XX como um momento de inflexão não somente da
imprensa brasileira, como também em parâmetros mundial. Dentre as transformações
que tomaram a imprensa brasileira no período, a substituição da produção de caráter
manual para o processo industrial fora de grande significância. Primeiramente porque
aumentava a velocidade da produção, tem-se um menor custo e maior número de
tiragens. Bem como, por volta do início do século XX, é caracterizado, segundo a
autora, como momento não somente de inovações técnicas, mas também de
racionalização da produção: houve a separação e especialização das funções, como
diretor, redator, repórteres, desenhistas, fotógrafos.
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Essa racionalização caminha em
pareceria com as inovações que se deram nos conteúdos de jornais e revistas do
período. O impresso que desde seu primórdio tinha um caráter essencialmente político
(BURKE, 2010; LUCA, 2008a), por volta do final do Império e início da República
começa a abordar temas diversos: esporte, saúde, cultura, entrevistas, crônicas
ganham espaço nas páginas dos jornais e revistas (MARTINS, Ana Luiza, 2008).
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Ao julgar que trabalhamos como periódicos, faz-se necessário pontuar cautelas
e ressalvas teórico-metodológicas peculiares em relação às fontes impressas. Para tal
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Devemos aqui ressaltar dois pontos de correspondência entre os autores aqui mencionados:
primeiro, que Peter Burke enfoca as inovações técnicas no sentido de agilidade de informação,
com uso do rádio e telégrafos. Já as autoras Tania Regina de Luca, Maria L. Eleutério (2008) e
Ilka Coben (2008, chama a atenção das inovações técnicas no período de 1900 com relação às
técnicas de impressão (uso da cor, de imagens e novas máquinas), e no próprio fazer
jornalístico. Outro ponto que merece ser destacado é que os autores tomam a especialização
da mão de obra como fator peculiar na imprensa na virada do século XIX para o XX, e que
caminha junto com o crescimento de conteúdos e temas abordados nos periódicos.
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Importante ressaltar que essa mudança de temas e abordagens, não leva a uma ausência de
abordagem política, como bem mostra a historiadora Tânia Regina de Luca. Além disso, a
autora também ressalta que os periódicos perdem o tom de doutrinação, e passam, a agir com
o ideal informativo: informações rápidas, dinâmicas, verdadeiras e sob novas técnicas de
produção. Cabe também ressaltar que houve uma diversificação na gama de conteúdos dos
impressos na década de 1930, contudo, lembra Tania de Luca em seu capítulo no livro
Fontes
Históricas
, mesmo com essa variedade temática e conteúdista, os impressos não deixam de
ser produzidos com a intenção de atingir públicos específicos (LUCA, 2008c).