A escrita historiográfica, seus protocolos e fontes - page 118

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anterior à produção cafeeira, e seu papel no loteamento e venda de terras, das quais
surgirá cidade e áreas para a produção agrícola.
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As discussões recentes também remetem a peculiaridade arquitetônica das
cidades que tinham seu desenvolvimento alavancado pela chegada da ferrovia. O
reconhecimento que com a chegada da ferrovia transformava-se o traçado urbanístico
da cidade: os estabelecimentos comerciais que antes estavam em torno das igrejas,
vão se direcionar e concentrar em torno da estação ferroviária, que se tornará o
símbolo de progresso na cidade (GHIRARDELLO, 2002).
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Nilson Ghirardello em seus
estudos sobre o urbano e sua relação com a ferrovia, mostra-nos que essa mudança
no traçado urbano com chegada da ferrovia leva a uma especulação imobiliária dos
terrenos em torno da estação, assim como um aumento do valor das terras destinadas
à agricultura. A partir do crescimento econômico devido ao desenvolvimento agrícola,
junto às novas possibilidades trazidas pela ferrovia, os investimentos começavam a
acontecer no que se refere à cidade, pois havia segurança quanto à viabilidade da
região abastecida pelos trilhos (GHIRARDELLO, 2011, p. 54). A estrutura ferroviária
na cidade, a arquitetura da estação e de suas oficinas, colocava-se como referência
urbana: a relação entre técnica e sociedade, onde os avanços da tecnologia, como a
própria ferrovia e suas estruturas de funcionamento cumprem a função de
proporcionar a modernização, ou seja, suas composições criam uma imagem de
modernidade (OLIVEIRA, 2011, p. 93).
Ao pensar o desenvolvimento industrial nas cidades e sua ligação com a
ferrovia, um dos nossos objetivos, Oswaldo Truzzi (1986) mostra que no caso da
cidade de São Carlos, os lucros advindos do café possibilitaram o incremento das
indústrias: a produção de café não somente possibilitou a acumulação de capital
necessária, como também toda uma infraestrutura que o desenvolvimento industrial
necessita. Além de possibilitar a ligação com a capital e o escoamento do café, Truzzi
ressalta que as próprias ferrovias foram geradoras de indústrias, o que ele chama de
“caráter industrializante” da ferrovia. Estas indústrias são para o próprio funcionamento
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Esta discussão que está no livro
Território e cidades
: projetos e representações, 1870-
1970, é apenas um dos resultados da pesquisa desenvolvida pela autora, que vem mostrar o
papel da Companhia Paulista de Estrada de Ferro na colonização e divisão de terras na região
da Alta Paulista. Assim, seu propósito era, a partir da colonização de novas áreas, aumentar
seus ganhos com o transporte da produção bem como de passageiros para essas novas áreas
agora povoadas (CAMPOS, 2011, p. 70).
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Ao pensar sobre a o papel da ferrovia, Eduardo Romero (2011, p. 93) ressalta que os
edifícios ferroviários ainda imprimiram novos estilos arquitetônicos na tecnologia de construção.
A partir das construções das estruturas ferroviárias e da própria ferrovia, novos padrões de
áreas urbanas trouxeram novos modelos de arquitetura, ou seja, novos padrões estéticos,
programáticos e adaptados com determinados materiais à modernidade que se defendia por
todo o mundo ocidental e que se encaixava nos anseios da burguesia, ciosa de modelos
europeus. Bem como o papel da ferrovia no transporte dos materiais necessários para a
construção desses novos tipos arquitetônicos.
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