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terminando o doutorado na Unicamp, justamente na área da
fotografia. Ele pesquisa a fotografia histórica. No passado, quem fazia
a pesquisa iconográfica? O de História era o mesmo que pesquisava
para o livro de Ciência, às vezes, para o livro de Desenho. Os livros
da década de 70, se você tinha que colocar Napoleão, colocava
sempre aquele mesmo Napoleão com a mão aqui sob o casaco,
aquele Napoleão típico, ou Napoleão de caricatura. Hoje, você, por
exemplo, pega os meus livros, tem uma pesquisa séria, diferente,
procurando..., de acordo com a linha do livro. Quer dizer, não há
incompatibilidade entre a imagem e o texto.E por quê? Por que houve
essa evolução? Eu acho que em grande parte produto de uma
consciência de que Educação é uma coisa séria. Que o livro didático
tem uma penetração muito intensa nas escolas. É um dos
instrumentos do ensino, mas ele se tornou um instrumento muito
importante, porque o professor deixou muitas vezes de ser reciclado.
Então, o livro é um recurso que é apresentado também ao professor.
(MUNAKATA,1997, p.183-184)
Evidentemente, é a visão de um membro da indústria dos livros didáticos, o
depoimento deve ser considerado como tal, não fica evidenciado que toda a evolução
apresentada foi praticamente imposta pelo PNLD, que impôs diretrizes para a compra
de livros didáticos e que estas compras é que sustentam e sustentaram, grosso modo,
o parque editorial nacional nas últimas décadas. É também a visão parcial de uma
peça dessa engrenagem que envolve atores múltiplos e movimenta milhões de Reais.
Outro detalhe é que a evolução apresentada por Cotrim, se é constatável hoje, à
época da entrevista, 1997, soa de maneira ufanista. Mas também assinala a tendência
geral que pode ser comprovada com um olhar atento às séries históricas: o livro
didático brasileiro melhorou muito ao mesmo tempo em que ampliou geometricamente
seu público.
Num país chagado pela falta de leitura, ele é mais do que um instrumento de
iniciação, foi e é, em alguns casos, o único livro à disposição e provavelmente estará
nas mãos de qualquer brasileiro que curse o Ensino Fundamental, mas isso não
significará que será lido, e, se lido for, isso também não significará que terá sua
mensagem assimilada como fora programada pela equipe editorial. Os leitores traçam
suas estratégias de leitura e apropriação. Mais do que texto a ser lido, o livro didático é
produto a ser consumido e assim será sob várias formas.
Em tempos que alardeiam o fim do livro, os livros didáticos também se
equilibram numa corda bamba, sobretudo, porque está ligado intrinsecamente à
obrigatoriedade de ensino e terá de concorrer com novos meios de instrução e
divulgação de informações. Porém, a despeito de um cenário apocalíptico apontado
por alguns, ele se mostra um produto cultural enraizado na cultura escolar e no
imaginário como uma síntese do conhecimento básico necessário para qualquer
cidadão.