A escrita historiográfica, seus protocolos e fontes - page 103

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Annales
” e seus seguidores, possibilitou não só que os materiais didáticos de história
passassem a ser considerados como fontes, mas também passaram a ser
considerados objetos quando olhar as massas, as pessoas comuns e o cotidiano
ganhou importância, procurou-se descobrir os bastidores de sua produção e sua
função na sociedade. Nesse sentido Alain Choppin (2004) nos mostra que inicialmente
as pesquisas sobre manuais escolares concentravam-se na análise dos conteúdos, já
nas últimas décadas, cada vez mais, os historiadores tem se preocupado com as
etapas que balizam a existência de um livro – isso tudo muito em função do
desenvolvimento e consolidação da história do livro e da leitura como “campo” – e
como o livro atua na sociedade, além do modo como esta o consome.
As mudanças sociais e educacionais além das historiográficas alteram
radicalmente a percepção que se tem dos materiais didáticos de história. Se antes a
preocupação girava em torno do perigo de “tal história” que era ensinada para nossas
crianças, hoje atenua-se essa preocupação, pois esses materiais passam pela
apropriação do professor e também dos alunos, o que quer dizer que as
representações contidas nos manuais podem ser negadas, contestadas, subvertidas,
ampliadas, reproduzidas, assimiladas, mas de qualquer modo não pode se considerar
uma via de mão única, a história escrita no manual nem sempre será entendida como
supôs seu feitor.
História do livro e da leitura
Nas últimas décadas a história do livro consolidou sua posição dentre o rol de
disciplinas acadêmicas e hoje seus métodos, problemas e objetivos estão assentados
entre os historiadores. Constitui-se como importante área do saber que caracteriza-se
pela interdisciplinaridade, reunindo pesquisadores de diversos ramos acadêmicos.
Segundo o historiador norte-americano Robert Darnton, um de seus principais
expoentes,
“surgiu da convergência de diversas disciplinas num conjunto comum de
problemas, todos relacionados ao processo de comunicação”
(DARNTON, 2010, p
122). Continua Darnton:
[...] sua finalidade é entender como as ideias eram transmitidas por
vias impressas e como o contato com a palavra impressa afetou o
pensamento e o comportamento da humanidade nos últimos
quinhentos anos. (DARNTON, 2010, p 122)
Não seria exagero dizer que Darnton prioriza em seus trabalhos o livro
enquanto objeto de análise inserido num circuito de comunicação, ele mesmo
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