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As percepções do social não são de forma alguma discursos neutros:
produzem estratégias e práticas (sociais, escolares, políticas) que
tendem a impor uma autoridade à custa de outros, por elas
menosprezados, a legitimar um projeto reformador ou a justificar,
para os próprios indivíduos, as suas escolhas e condutas. Por isso
esta investigação sobre as representações supõe-nas como estando
sempre colocados num campo de concorrências e de competições
cujos desafios se enunciam em termos de poder e de dominação
(CHARTIER, 1990, p. 17).
Feito este balanço historiográfico
acerca da produção e de alguns de nossos
referenciais, passamos para uma reflexão a partir dos periódicos, como estes veem a
Estrada de Ferro Sorocabana na cidade de Botucatu, bem como suas estruturas e
serviços prestados tomando como questão a ideia de modernidade.
1 A percepção da estrada de ferro Sorocabana em Botucatu
Ao propormos uma discussão acerca da representação da Estrada de Ferro
Sorocabana em Botucatu, sob a égide da modernização, faz-se necessário um
conhecimento dos periódicos que tomamos como fonte: seu posicionamento e seus
colaboradores. Essas elucidações são necessárias para melhor compreendermos a
posição de cada qual em relação à concepção de modernização da cidade de
Botucatu e da Estrada de Ferro Sorocabana.
O
Jornal de Notícias
fora inaugura no dia 22 de novembro de 1931, sendo seu
diretor J. Thomas de Almeida, e como gerente Nello Pedretti. Sua circulação durou
somente até 1934, quando fora comprado por uma sociedade composta por inúmeros
empresários e industriais da cidade de Botucatu, dentre eles Emilio Pedutti, Petrarcha
Bacchi, que daria origem à
Folha de Botucatu
.
Assim, em 10 de abril de 1935 fora inaugurada a
Folha de Botucatu
, sob a
chefia de Pedro Chiaradia e Eulico Mascarenhas de Queiroz, inicialmente
trissemanário. Vale destacar que os dois periódicos citados tem em comum a sua forte
ligação com os industriais e comerciantes da cidade de Botucatu. Ambos trazem
notícias que ressaltam a indústria na cidade de Botucatu, além de um dos sócios da
Folha
ser o Petrarca Bacchi, industrial da cidade, como também a pessoa de Carlos
César comerciante e posterior presidente da Associação Comercial de Botucatu.
Além dessas informações, é válido ressaltar que a
Folha de Botucatu
possuía
vínculos políticos com o Partido Constitucionalista, como notamos em uma notícia que
trata sobre o
progresso
da cidade de Botucatu (ECHOS..., 1935, p. 1). Na notícia, que
se trata de um comentário da
Folha
sobre as considerações do
Correio de São Paulo