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recorremos aos suportes abordados por Tania Regina de Luca (2008b; 2008c). Para
evitar contradições e má reconstrução do passado por meio de fontes impressas, faz-
se necessário conhecimento do material impresso: sua produção e conteúdo não
podem ser analisados de maneira particular. Deve estar associada às condições de
produção e as técnicas jornalísticas do momento. O tipo de papel, se a produção é
artesanal ou em escala industrial, sua tiragem, a presença ou ausência de imagens. O
historiador deve estar atento e refletir sobre a materialidade dos impressos, e neste
sentido, sua historicidade. Conhecer o jornal nas suas especificações internas e
historicizá-las, pois segundo a autora, as transformações do tempo “resultam na
complexa interação entre técnicas de impressão disponíveis, valores e necessidades
sociais” (LUCA, 2008c, p. 118).
Assim como é necessário conhecer suas especificações de produção,
conteúdo, técnicas, ter o esclarecimento do grupo e colaboradores do impresso
analisado é um artefato que torna mais claro o posicionamento e conteúdo do material
abordado. Como o periódico constitui-se essencialmente em discurso, e neste sentido,
a forma como destaca um assunto, ou uma manchete de capa, não é obra do acaso.
Conhecer os idealizadores do impresso, colaboradores mais próximos, as suas
ligações com diferentes poderes traz a luz significados e pretensões do próprio
impresso, o que justifica não somente a escolha de matérias, mas a própria linguagem
utilizada pelo impresso e as significações criadas pelo mesmo (LUCA, 2008b, p. 140).
Nosso trabalho busca investigar quais as representações acerca da Estrada de
Ferro Sorocabana e das indústrias da cidade de Botucatu por meio dos periódicos sob
a égide da modernização. Entretanto, nesse texto
vamos nos restringir somente as
representações em torno da ferrovia, de suas estruturas e serviços prestados em
Botucatu.
Ao propor um estudo sobre as representações acerca da Estrada de Ferro
Sorocabana implica pensar esse objeto a partir de uma perspectiva cultural da história.
E pensar em representação, é investigar como, num determinado momento da
história, em nosso caso a década de 1930, uma realidade histórica é construída,
legitimada e compreendida por seus contemporâneos (CHARTIER, 1990, p. 17).
Essas representações, como pontua Chartier, são determinadas por interesses dos
grupos que as criam, e sendo assim, há uma ausência de neutralidade. Neste sentido,
pensar numa história cultural acerca da representação criada num certo período, não
excluí da investigação o social, já que o historiador não deve isolar a representação,
do grupo que a constrói: deve estar atento aos grupos e interesses desses para
compreender tal representação e concepção de realidade: