A escrita historiográfica, seus protocolos e fontes - page 104

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defendeu uma visão holística do livro, entendendo-o como um meio de comunicação
fundamental para transmissão cultural desde a Renascença. Por outro lado, temos o
não menos importante historiador francês Roger Chartier que se centra nas
apropriações ou melhor, no universo dos leitores, das inúmeras possibilidades de
apropriação que o texto pode sofrer por parte dos leitores, para Chartier “um texto só
existe se houver um leitor para lhe dar um significado”, portanto podemos dizer que
embora Chartier proponha uma análise triangular – texto, livro, leitura – a última parte,
a leitura ou os modos de apropriação, desempenha um papel decisivo, pois um leitor
pode subverter a intenção do autor durante a leitura. Isso não significa dizer que a
subjetividade inerente às leituras que os leitores fazem seja um postulado absoluto
para Chartier:
Esta independência fundadora não é, todavia, uma liberdade
arbitrária. Ela é limitada pelos códigos e convenções que regem as
práticas de uma comunidade de dependência. Ela é limitada,
também, pelas formas discursivas e materiais dos textos lidos.
(CHARTIER, 1994, p. 14)
Por outro lado, também seria injusto dizer que Darnton não considera as
especificidades e multiplicidades das leituras. Apenas não as toma como objeto central
de sua análise. Como aponta em trabalho já citado
“os leitores não se limitavam a
decifrar os livros, mas extraíam um significado deles”
(DARNTON, 2010, p 145). No
entanto, Darnton adverte que os textos também moldam a recepção dos leitores, por
mais ativos que sejam, em suas palavras
“a história da leitura terá de levar em conta a
coerção do texto sobre o leitor, bem como a liberdade do leitor com o texto”
(DARNTON, 2010, p. 146).
O circuito de comunicação dos livros didáticos
Com relação aos livros didáticos, primeiramente devemos considerar que seus
textos são escritos por autores “autorizados” (professores, bacharéis, alguém com
formação específica, correlata ou com experiência na área), em seguida passam por
um longo processo nas fileiras das editoras - copidesque, revisão ortográfica, revisão
pedagógica, diagramação, ilustração e talvez outras etapas (MUNAKATA, 1997) - que
tem de levar em conta não só os anseios da classe docente ou discente, mas também
documentos norteadores como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996, os
Parâmetros Curriculares Nacionais e os editais e pareceres de bancas examinadoras
do Programa Nacional do Livro Didático. Portanto, os livros didáticos são
escritos
(os
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