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perseguições a grupos de direita, causando rumores de uma possível guerra civil no
país.
Como uma das principais consequências desta tentativa de contragolpe – que
fora conduzido pelo próprio General Spínola em 11 de março daquele ano – houve a
maior radicalização e aproximação do governo com o socialismo – tanto em discursos
como em atitudes ditas revolucionárias. Para os diretores de
O Globo
, em opinião
expressa novamente em editorial, a tentativa de golpe só pode ser entendida como
uma cilada, na qual, ingenuamente, alguns militares e o General Spínola se deixaram
envolver. Ainda afirmariam que “o retumbante insucesso da intentona só contribuiria,
afinal, para beneficiar de toda maneira o dispositivo militar comunista instalado no
governo”. (
Portugal Excêntrico
. O Globo, Rio de Janeiro, 18 mar. 1975, Caderno 01, p.
01.). Em tom enfático, o editorial pretendia prever que não haveria futuro para o país
caso o rumo político conduzido pelo Movimento das Forças Armadas fosse realmente
o de aproximação com o comunismo, atestando que “Um Portugal comunista constitui
uma realidade despropositada na Europa e no mundo. As realidades excêntricas
costumam acontecer em todos os tempos, mas elas próprias encerram o germe de
sua oportuna correção” (
idem
).
A cobertura dispensada pelo matutino na eleição da Assembléia Constituinte
Portuguesa, realizada em 25 de Abril de 1975, também representa de maneira clara o
posicionamento do periódico com relação ao comunismo, tal qual uma estranha
atuação em relação ao socialismo português. Ainda antes da realização do pleito, o
jornal advertiria que “fontes políticas disseram que agora já não tem sentido as
eleições do dia 25, já que os militares esquerdistas que dominavam o governo
praticamente ditaram a constituição aos partidos e assumiram todos os poderes
legislativos e executivos” (
Aprovação do plano do MFA esvazia eleição portuguesa
. O
Globo, Rio de Janeiro, 06 abr. 1975, Caderno 01, p. 25.). Mesmo não existindo
qualquer citação de quais seriam estas fontes políticas, não é difícil imaginar que se
tratava de opositores do regime. Ademais, o jornal seria porta-voz de incansável
campanha anticomunista, afirmando em chamadas de diversas matérias que os
portugueses estariam se organizando contra o marxismo, bem como divulgando
manifestos de Bispos católicos e outras lideranças da sociedade civil, desde que,
obviamente, representassem o mesmo posicionamento adotado pelo matutino.
O resultado da eleição que definiria os membros da Assembléia, ainda que
houvesse sido anunciada pelo periódico como uma eleição sem valor efetivo e
contrariasse as previsões de vitória maciça de partidos de centro e de direita, viria de
encontro aos anseios representados nas publicações do jornal, de afastamento e do
povo português das forças comunistas. Embora a formação do parlamento constituinte