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regime, ainda que esta mesma comunidade fosse composta, em sua grande maioria,
por exilados do antigo regime ditatorial.
Também por meio de editoriais publicados pelo matutino, foi possível perceber
posicionamentos que, se não demonstraram pavor com a eclosão revolucionária em
Portugal, ao menos transpareceram certo receio com relação aos rumos do
movimento. Ao tratar da formação do Primeiro Governo Provisório português do pós-
revolução, o periódico advertiria seus leitores, em editorial cujo tom beirava o profético,
acerca da presença de forças populares, sobremaneira comunistas, na composição
deste governo, afirmando que:
Em nenhum lugar do mundo, quando se trata de praticar a rotina
democrática, as frentes populares se mostraram operativas. Elas
funcionam para agitar e até para eleger, nunca para governar.
Contendo a presença de militantes comunistas e de radicais de
esquerda, nascem com o germe de uma contradição essencial: o
impossível convívio entre os que incorporaram os valores da
democracia e os que se privilegiam da oportunidade de usá-los
precisamente para destruir o regime das liberdades. (
O Novo destino
português
. O Globo, Rio de Janeiro, 16 maio 1974, Caderno 01, p.
03)
Outro editorial, publicado ainda em maio de 1974, seria também incisivo ao
salientar que, apesar da aparente instauração da ordem política, existiria ainda em
Portugal, “sem duvida, uma ameaça de desbordamento socializante ou comunizante”,
a partir da qual se deveria “[...]
temer-se a precipitada e até ingênua versão lusitana do
“front populaire”, de tão desastrado folclore no resto do mundo” e ainda advertiria que
Socialistas e Comunistas estariam “imensamente longe de representar a vontade
majoritária portuguesa”. Ao findar tal editorial, advertia OG a seus leitores que se
mantinham as esperanças de que as forças democráticas se organizassem para
afastar o país “dos perigos da euforia desorientada e das lideranças indébitas” e que,
“as minorias voltarão a ser minorias, sem envolverem os portugueses numa opção
desviada de suas tradições liberais e cristãs” (
Rumo à Normalidade.
O Globo, Rio de
Janeiro, 25 maio 1974, Caderno 01, p. 01).
Apesar do tom, estes primeiros editoriais que abordaram a movimentação
política portuguesa são, de maneira geral, finalizados com votos de esperança no
novo governo, saído de um bem sucedido golpe militar. O findar dessa esperança não
demoraria a acontecer. Demonstrando claramente sua opção liberal e contrária às
tendências esquerdistas que tendiam cada vez mais a dominar o Processo