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evidenciado nas campanhas movidas pelo jornal e em editorial quando da celebração
de 50 anos do órgão impresso da família Marinho.
Apesar do claro apoio dispensado pelo jornal dos Marinhos aos governos
militares, outras mídias do grupo coordenado por esta família seriam prejudicadas pela
censura. O telejornal líder em audiência no país desde seu lançamento e um dos
principais produtos midiáticos da Rede Globo de Televisão, teria, logo na estréia, que
conviver com a censura. A notícia relativa ao grave problema de saúde do então
presidente Marechal Artur da Costa e Silva foi proibida, sendo divulgada apenas uma
nota oficial. Diversas outras chamadas jornalísticas seriam proibidas no telejornal,
através de variados métodos de censura, sendo os principais o envio de memorandos
ou ligações telefônicas (MEMÓRIA GLOBO, 2004, p. 35-36). Cabe ressaltar que a
informação acerca destas práticas de censura é, sobretudo, presente em obra
produzida pelas Organizações Globo, sendo esta informação passível de maiores
análises, haja vista que é a voz oficial do grupo.
Ao se analisar historicamente as edições do matutino carioca publicadas entre
1974 e 1976, foi possível perceber os posicionamentos políticos do jornal, sob dois
aspectos distintos. Por um lado, a partir da cobertura de sua editoria internacional, que
muitas vezes demonstra uma posição declaradamente anticomunista – seja na
redação do noticiário internacional diário ou em editoriais que denotam a opinião do
grupo diretor do periódico acerca deste mesmo noticiar. E por outro lado, na exaltação
dos feitos do regime militar, através de elementos esparsos no noticiário diário,
notícias acerca do campo político nacional, comentários e ainda em muitos editoriais.
Entre 1974 e 1976 o noticiário internacional de
O Globo
, assim como os outros
grandes periódicos brasileiros, foi permeado por uma cobertura bastante volumosa da
Revolução dos Cravos e de seus desdobramentos políticos. Na década de 1970,
Portugal passava por momentos de ampla complexidade, sobretudo sob o ponto de
vista social e político. A guerra colonial iniciada ainda nos anos 1960 não demonstrava
sinais de que chegaria ao fim brevemente e a manutenção do império colonial
denotava ainda mais o caráter retrógrado da política portuguesa. A economia lusitana,
uma das mais atrasadas do cenário europeu, abalou-se ainda mais com o as enormes
despesas militares geradas em função do conflito. Somava-se a este cenário
econômico-militar o autoritarismo do governo salazarista, que mantinha a censura e a
perseguição política como pilares de seu governo. Em 25 de abril de 1974, oficiais
intermédios da hierarquia militar lusitana organizam-se e, de maneira rápida e eficaz,
derrubam a ditadura salazarista.
A Revolução que encerrou um ciclo de autoritarismo de mais de quatro
décadas em solo português foi, de maneira geral, vista com bons olhos por órgãos da