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abalar a hegemonia, até então, inquestionável, da imprensa impressa que se viu
obrigada a remodelar-se para conseguir concorrer com o novo meio.
Quanto à radiodifusão, a historiografia trata o tema com um recorte temporal
voltado ao seu período áureo, geralmente expondo o aspecto modernizador e social
que o rádio simbolizou. Grande parte das pesquisas sobre a temática foi produzida
nos programas de pós-graduação em comunicação social, onde os recuos temporais
raramente ultrapassam uma década. Entre os trabalhos realizados a partir de 1970,
momento em que os meios de comunicação eletrônica começavam a se tornar objetos
de pesquisa, encontra-se um número significativo que se restringiu à utilização do
método de amostragem, no qual a análise histórica é praticamente inexistente.
Muitos trabalhos utilizam a imprensa como fonte, devido a dificuldade
relacionada à pesquisa, uma vez que não existem arquivos com o material veiculado
pelas emissoras. A dissertação de mestrado de Vieira (2010) discute a forma como o
projeto de disseminação do rádio como tecnologia teve relevância para a
popularização do veículo a partir do início da década de 1930. Ao utilizar fontes
impressas como o jornal
O Globo, Gazeta de Notícia
e a revista
Rádio
documentos
referentes à Rádio Sociedade do Rio de Janeiro e intensa revisão bibliográfica, a
autora desmistifica questões relacionadas ao suposto papel elitista do meio, expondo
que a disseminação do veículo se deu de maneira rápida, uma vez que aparelhos de
rádio poderiam ser construídos em casa com objetos comuns ao cotidiano. Ao utilizar
um recorte que trata dos primeiros dez anos de radiodifusão no Brasil (1920-1930),
seu trabalho fornece as bases necessárias para que seja possível entender como se
deu os primeiros anos do desenvolvimento do rádio brasileiro.
Quanto à radiodifusão e imprensa, alguns trabalhos lançam luzes, mostrando
certa influência das folhas. O trabalho de Tota (1990), que busca analisar a relação
existente entre rádio e modernidade em São Paulo, no período correspondente aos
primeiros anos de transmissões radiofônicas no país (1924-1934), enfatiza o caráter
modernizador que o novo meio trouxe à capital paulista. O autor também apresenta o
importante papel dos jornais que divulgaram a inauguração de emissoras e sua
programação diária.
Outra fonte bibliográfica importante à pesquisa são as obras de memória de
profissionais ligados à história do rádio, como são os casos dos livros de Lago (1976)
e Tavares (1999), que abordam temas relacionados ao cotidiano dos profissionais do
rádio e contribuem com aspectos nem sempre contemplados pela historiografia,
porém, não dispensadas do confronto com a documentação do período e análises
historiográficas ou de especialistas em estudos da comunicação social.