A escrita historiográfica, seus protocolos e fontes - page 81

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vigência do Estado Novo. Situação que não deixaria de contaminar as folhas que
tivessem integradas a condomínios comunicacionais operando como concessionários
de radiodifusão. Quadro aberto e possível justamente a partir dos decretos relativos à
radiodifusão instituídos por Vargas, obviamente não sem interesse de empresário do
setor de comunicação e do poder federal.
Ao tratar a história política renovada, o setor dos meios de comunicação
eletrônicos não é o mais ardorosamente trabalhado. Percebe-se facilmente os
obstáculos específicos em explicar os atrasos da pesquisa, considerando que não há
arquivos sobre o conteúdo veiculado pelo rádio. No entanto, é certo que a mídia
desempenha um papel na evolução dos comportamentos políticos, uma vez que a vida
política de um país se reflete no cotidiano de uma redação de jornal e no estúdio de
uma estação de rádio (JEANNENEY, 1996a, p. 213-230). A diversidade dos objetos de
estudo e sua dispersão faz com que as pesquisas sobre mídia seja composta por um
número reduzido de trabalhos, muitos na área de Comunicação, onde os recortes
temporais são reduzidos e a análise histórica nem sempre presente.
Dois trabalhos fundamentais sobre mídia que devem ser citados é a obra de
Jeanneney (1996b), na qual o autor expõe debates e análises que afirmam a mídia
europeia como agente político ativo capaz de influenciar decisões políticas
importantes. Ao apresentar a radiodifusão, o historiador francês ressalta o rádio como
uma grande vítima da imprensa impressa. Boicotes foram bastante comuns, bem
como ataques diretos, o que limitou, em muitos aspectos, o desenvolvimento do meio
(JEANNENEY, 1996b, p. 121-140). Outra reação menos passiva, mais inventiva,
conduziu a imprensa a tomadas de participação no rádio, acontecimento comum a
partir da década de 1930, dando origem aos bastante comuns na última metade do
século XX, conglomerados jornalísticos, comuns ao Brasil a partir de 1935.
(SILVA,
2009, p. 66)
Briggs e Burke (2004) apresentam a imprensa como o “Quarto poder”,
que firmou-se a partir do início do século XX, e a radiodifusão como a grande inovação
tecnológica do primeiro quarto daquele século. Com o início da II Guerra Mundial a
maioria das estações de rádio da Europa estava em mãos nazistas, e a demanda por
notícias “reais” era maior do que nunca. Ao fornecê-las, o rádio teve sensível
vantagem sobre os jornais. Outro ponto importante de ascensão do meio deu-se na
questão publicitária, uma vez que a imprensa impressa perdeu espaço e patrocínio
para os meios eletrônicos que surgiram – primeiro o rádio, depois a TV -, o que levou
ao declínio dos anúncios em jornal de 45% em 1935 para 23% em 1995 (BRIGGS,
2004, p. 192 – 232). Ambos os trabalhos mostram uma perspectiva de mudança no
cenário midiático do início do século XX, uma vez que o surgimento do rádio veio para
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