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guerra e a região paranaense concentra muitas colônias de imigrantes alemães e
italianos, por exemplo.
Para David Carneiro, se o paranaense não era capaz de sair contando aos
conterrâneos a história dos homens cujos nomes estavam estampados nas ruas, era
porque o
Paraná, com as suas correntes imigratórias, perde cada vez mais, o
seu real civismo. [...] Vai-lhe faltando contacto com o seu próprio
passado. Hoje falta, nas famílias, o relembrar de tradições. Falta nas
escolas primárias, que as mestras ensinem os nomes dos que
derramaram seu sangue, pelo bem coletivo, afim de que tais lições
sejam código de civismo. E seria tão simples!?... (CARNEIRO, 1950,
p. 3).
Leitor de Cícero, David Carneiro compreende a história como mestra da vida,
“como coleção de exemplos –
plena exemplorum est historia
[a história é cheia de
exemplo] – a fim de que seja possível instruir por meio dela” (KOSELLECK, 2006, p.
43, grifo do autor). A função dos estudos históricos reside no ensino às novas
gerações, afim de que as ações construtivas do passado sirvam como diretriz no
presente e guiem o agir no futuro.
Com o “e seria tão simples!?...” encontramos um ar de decepção nas palavras
de Carneiro. Talvez, para ele, o ensino não estivesse cumprindo o seu papel e, por
sua vez, o ensino da história deveria atuar para suprimir as razões que causaram, no
passado, o desdém com as tradições. E como isto deveria ser feito? Ensinando a
história dos grandes homens e seus feitos, “os nomes dos que derramaram seu
sangue” para defender, construir e administrar a pátria.
O ensino deveria desenvolver a “consciência histórica” dos indivíduos, evocada
para superar problemas do presente.
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David Carneiro produziu uma narrativa cujo
sentido visava superar uma contingência histórica: a destruição dos monumentos que
identificam os paranaenses com o seu passado português. Nessa perspectiva, a
“consciência histórica” também age para reforçar laços de pertencimento. Os
paranaenses deviam se reconhecer em sua herança lusa e se identificarem com este
passado, motivados para uma ação futura, que assim foi expressa:
é pois, absolutamente necessário que nos organizemos nós mesmos,
para fazer-se alguma coisa de útil no sentido de preservação dos
documentos concretos do nosso passado que ainda estão em pé
(CARNEIRO, 1950-1951, p. 9).
29
Sobre a noção de consciência histórica: RÜSEN, 2001; RÜSEN, 2009, p. 163-209.