A escrita historiográfica, seus protocolos e fontes - page 62

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Quem esteve à frente do periódico em todos os números foi seu diretor-
proprietário Tenente Coronel Arnaud F. Velloso, sócio benemérito do
Centro de Letras
do Paraná
. Velloso foi o responsável pelo editorial de todos os números da revista. No
primeiro número, de nome Divulgando, seu diretor explicou a proposta do periódico,
“ela [revista] se propõe simplesmente propagar idéias e realizações ‘paranistas’ por
todo o Brasil” (VELLOSO, 1947, p. 1). Fez uso do termo paranista mas conjugou o
regionalismo com o nacionalismo. Assim declarou: “nosso ideal é sobretudo aproximar
servindo aos interêsses da cultura no seu desdobramento material e espiritual. E
aproximar significa fortalecer os élos de unidade nacional” (VELLOSO, 1947, p. 1). A
revista se situa no contexto de mutação política após a queda do Estado Novo, em
1945. No entanto, apesar da mudança de orientação política, a estrutura do governo
pouco se alterou e a ideia de unidade territorial permaneceu com o anseio democrático
(NEVES, 2001, p. 167-203).
A revista propunha os enfoques políticos, econômicos e culturais não só
pertinentes aos paranaenses, mas também aos brasileiros em geral. Surgiu almejando
projeção nacional, em seu frontispício informou possuir “representantes em todas as
capitais”. Nada mais pertinente do que convidar para participar do primeiro número
alguém já reconhecido nacionalmente no cenário das letras. Assim, logo após o
editorial, o leitor encontra o texto de Pedro Calmon, ex-presidente da Academia
Brasileira de Letras, “saudando” o novo impresso.
Na edição seguinte, fevereiro e março de 1948, a revista novamente reservou a
página de número 4 para Calmon. O título é sintomático do conteúdo, “Curitiba, cidade
única”. Eis a “Cidade sorriso”, “terra jovem enervada pôr todas as tendências que
impulsionam a civilização moderna” com seu “esplendido ar europeu”. Calmon em
uma página (re)atualiza o discurso construído pela inteligência paranaense e pelo
poder público desde o início do século XX, principalmente a ideia de que Curitiba, e
por extensão o Paraná, é o “cantinho” mais europeu do Brasil (CALMON, 1948, p. 2).
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O seu primeiro subtítulo foi “Intercâmbio cultural econômico financeiro”, ele nos
dá pistas da amplitude temática pretendida. O sentido da palavra “intercâmbio” do
número inaugural é evidenciado pelas matérias e notícias que percorrem aspectos
econômicos do Rio Grande do Sul, do turismo catarinense, da engenharia nacional, do
mercado latino-americano, da indústria automobilística norte-americana, do trigo
argentino e do comércio exterior do Uruguai. Contudo, ao observarmos a sequência
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Sobre o processo de construção de Curitiba enquanto “capital europeia”, pode-se ler:
MORAES; SOUZA, 1999, p. 7-16; BARONE, 2009; OLIVEIRA, 2000.
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