A escrita historiográfica, seus protocolos e fontes - page 65

65 
eleita como emblema do Paraná pelos discursos paranistas do início do século XX.
10
No texto, Arnaud Velloso retoma a narrativa e os símbolos forjados pela historiografia
seguidora de Romário Martins, como a identificação do homem paranaense com o
pinheiro (SZVARÇA, 2004).
O editorial propôs a continuidade histórica alicerçada no passado bandeirante.
A narrativa histórica de David Carneiro sobre as “brilhantes bandeiras curitibanas”
realizadas no século XVIII pelo Coronel Afonso Botelho, parece encontrar solo fértil
nas páginas do periódico.
11
Os escritos de David Carneiro levam a pensar que o
ímpeto bandeirante motivou os paranaenses na conquista da emancipação política de
São Paulo, em 1853. No texto ressalta-se que os parlamentares que votaram a favor
da lei de emancipação da província foram sensatamente convencidos pelos apelos
dos paranaenses, representados pelas suas elites econômicas (CARNEIRO, 1954).
Essa interpretação atribuiu esplendor a um movimento que parece ter sido, sobretudo,
uma manobra de controle político do Império via Partido Conservador, ou seja, as
elites regionais foram coadjuvantes do processo emancipatório.
12
Em
A Divulgação
, a ponte entre o passado heroico bandeirante e o presente
histórico está na avaliação que o editorial fez da conjuntura econômica do Estado:
10
O período compreendido entre fins do século XIX e as primeiras décadas do século XX
marcaram um importante momento da história cultural do Estado. Foi neste contexto que
floresceu uma “intelectualidade paranaense” voltada para a reflexão da singularidade regional e
da inserção do Paraná nos trilhos do progresso econômico, social, político e intelectual, tão
almejado pela sociedade brasileira do período. Na intenção de aglutinar essa intelectualidade
surgiu, na década de 1920, o Movimento Paranista. Políticos, historiadores, literatos, jornalista
e artistas procuraram definir o que era “ser paranista”, forjaram-se símbolos (pinheiro, pinha,
pinhão, erva-mate, o indígena), criou-se um estilo paranista nas artes e na moda feminina, e
toda uma literatura de reflexão sobre o Estado, a história, a memória e as particularidades
regionais (PEREIRA, 1998; BARONE, 2009). Embora o Movimento tenha desaparecido, o
termo paranista permaneceu e se configura como um tipo de adjetivo que recebe os que
imprimem em seus textos, discursos e ações o sentimento paranista de “valorização regional”.
(SALTURI, 2007, p. 85).
11
David Carneiro criticou as famosas “bandeiras paulistas”, que se distinguem das
paranaenses porque “elas [as paranaenses]
não tinham nenhuma ambição de ouro, e menos
ainda a de caçar o índio para escraviza-lo. Tinham, isso sim, o ardor patriótico necessário para
se jogar ao sacrifício sem nenhum lucro pessoal; e desde que a Pátria lucrasse na empreitada,
dar-se-iam eles por bem pagos”. (CARNEIRO, 1995, p. 68). Ao tentar sobrepujar o imaginário
do bandeirante paulista, Carneiro silencia que as expedições de Diogo Pinto de Azevedo
Portugal aos campos de Guarapuava resultaram na morte de muitos índios caingangues.
Sobre a invenção épica do que é ser paulista assentada na criação do modelo da epopeia
bandeirante pode-se ler: FERREIRA, 2002.
12
Para Divonzir Lopes Beloto, a elite campeira e os ervateiros não conseguiram se articular
enquanto “grupo” com força política organizada o suficiente para ser ouvida pelo Império.
Defende Beloto que a emancipação foi fruto de uma manobra política do Partido Conservador
para desarticular o crescimento do Partido Liberal na Comarca de Curitiba, garantindo, desta
forma, a vitória dos conservadores em São Paulo nas eleições de 1854. Com a emancipação,
assume a presidência da nova província o conservador Zacarias de Góes e Vasconcelos, e os
conservadores ainda conquistam a vaga para senador e deputado geral para a Assembleia
Geral, além da maioria dos deputados de província. Na análise de Beloto, a emancipação
“vem de cima para baixo, ao modo imperial. É a emancipação conservadora” (BELOTO, 2003,
p. 71).
1...,55,56,57,58,59,60,61,62,63,64 66,67,68,69,70,71,72,73,74,75,...180
Powered by FlippingBook