A escrita historiográfica, seus protocolos e fontes - page 52

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que concebem a nação como decorrência de uma construção histórica ou invenção.
(MÄDER, 2006, p. 16). Segundo Gellner, por exemplo, “o nacionalismo não é o
despertar das nações para a autoconsciência: ele inventa nações onde elas não
existem” (GELLNER, 1964, apud ANDERSON, 2008, p. 32) já que é o Estado o
verdadeiro construtor da nação. (GELLNER, 1983). Eric Hobsbawm aborda o
nacionalismo como fenômeno histórico, destinando especial atenção às mudanças e
transformações desse conceito, enfatizando o “[...] elemento do artefato, da
invenção e da engenharia social que entra na formação das nações”. (HOBSBAWM,
1991, p. 18-19). Para Iara Andrade identidade nacional é também um termo subjetivo,
definindo uma representação formulada por intelectuais com interesses diversos.
Trata-se, pois, de um discurso que busca homogeneizar hábitos, povos e costumes
distintos atribuindo lhes semelhanças construidas. (ANDRADE, 2010, p. 01-10).
Benedict Anderson (2008), Renato Ortiz (1994) e Maria Stella Martins Bresciani
(2007, p. 31), também, concordam com as concepções subjetivas do termo,
definindo-o como formado por discursos construidos e imaginados. Por fim, Renato
Ortiz acrescenta que a identidade nacional está intimamente unida a uma
reinterpretação do popular por determinados grupos sociais, razão pela qual, para ele
toda identidade é uma construção simbólica, e pressupõe um componente que
homogeneiza e outro que diferencia dos demais povos. (ORTIZ, 1994, p. 08-09).
Seguindo essa linha de interpretação o conceito de nação será pensado neste
projeto de acordo com os pressupostos dos autores acima comentados, mais
especificamente como Benedict Anderson bem o definiu, ou seja, como uma
comunidade política imaginada, inerentemente limitada e ao mesmo tempo, soberana.
É imaginada porque os membros das nações jamais conhecerão, encontrarão, ou
sequer ouvirão falar da maioria de seus companheiros. E é uma comunidade, pois, a
nação sempre é concebida como uma profunda camaradagem horizontal. É limitada
porque mesmo a maior delas, possui fronteiras finitas, para além das quais existem
outras nações. E soberana porque o conceito nasceu na época em que o Iluminismo e
a Revolução estavam destruindo a legitimidade do reino dinástico hierárquico de
ordem divina. (ANDERSON, 2008, p. 32-34).
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