A escrita historiográfica, seus protocolos e fontes - page 48

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(MENESES, 1996, p.152). No caso deste trabalho, optaremos por restringir nossa
abordagem à mensagem das ilustrações em contraposição à sua forma.
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A imagem é
um indicio do passado que traz em suas estruturas elementos valiosos para a
compreensão do período histórico que apresenta. Pois a apreensão da imagem nos
possibilita entender as diversas representações da realidade e a construção de
imaginários acerca de um determinado período. Interessa-nos, portanto, aqui,
recuperar o que este tipo de documento tem a nos dizer enquanto representação de
uma época (SCHWARCZ, 1998).
Segundo Peter Burke (2004) as imagens ocupam uma variedade de posições
entre dois extremos: por um lado não são nem um reflexo da realidade social, mas por
outro também não são um sistema de signos sem relação alguma com a realidade
social. Elas se constituem como testemunhas dos estereótipos, mas também das
mudanças graduais, pelas quais indivíduos ou grupos vêm o mundo social incluindo o
mundo de sua imaginação. As imagens são testemunhas dos arranjos sociais
passados e das maneiras de ver e pensar do passado. Elas dão acesso a visões
contemporâneas daquele mundo e não ao mundo social diretamente. O testemunho
das imagens necessita ser posto em uma série de contextos (cultural, político, material
e assim por diante), incluindo as convenções artísticas, bem como os interesses do
artista e do patrocinador original ou do cliente, e a pretendida função da imagem no
periódico. No trabalho com imagens deve-se buscar nas entrelinhas, observando os
detalhes pequenos, mas significativos, incluindo ausências significativas.
As imagens são uma forma de suporte de representações. Sendo, segundo
Meneses (1996), uma construção discursiva que depende de formas históricas de
percepção e leitura das linguagens e técnicas disponíveis, dos conceitos e valores
vigentes. As imagens se constituem numa forma importante de evidência histórica:
“Elas registram atos de testemunho ocular”. Mas o uso de imagens não pode ser
limitado à “evidência” no sentido estrito do termo, deve se também levar em conta “o
impacto da imagem na imaginação histórica” (HASKELL, 1993 apud BURKE, 2004, p.
16-17). Ou seja, segundo Peter Burke (2004, p. 17), imagens nos permitem “imaginar”
o passado de forma mais vívida (BURKE, 2004, p. 17).
Para a construção da narrativa histórica, é necessário buscar, além do
conteúdo e da forma, levar em conta os diferentes propósitos dos realizadores das
imagens, e a capacidade do ilustrador/desenhista de instituir um conhecimento sobre a
realidade na qual se insere. E analisar também o contexto político, social e cultural
imersos na imagem e do período em que foram criadas. Assim como não podemos
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Esta abordagem no trabalho com imagens também foi feita pela autora Lilia Moritz Schwarcz
no livro
As barbas do Imperador
(1998).
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