A escrita historiográfica, seus protocolos e fontes - page 47

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O periódico prescreve, portanto, a análise circunstanciada do seu lugar de inserção, e
delineia uma abordagem que faz dos impressos, de forma sincrônica, fonte e objeto de
pesquisa historiográfica, rigorosamente inseridos em uma crítica competente (LUCA,
2006, p. 141).
É necessário ser levado em consideração e avaliado as nuances e a
complexidade da produção, circulação, consumo e papel social do fazer jornalístico
em Portugal e no Brasil. Assim como as várias redes de sociabilidade que se
constituíram entre diversos periódicos entrelaçados ao contexto do qual se
encontravam inseridos. Sem negligenciar dentro desses vínculos que se articulavam
(criavam, mantinham ou refaziam), com densidades desiguais, uma forma de
associação bastante especifica em suas características, embora articulada com as
demais: as redes de sociabilidade pela imprensa periódica. A qual se configura como
um palpável agente histórico, com sua materialidade no papel impresso e efetiva força
simbólica das palavras que fazia circular, assim como dos agentes que a produziam e
dos leitores, ou ouvintes, que de alguma forma eram receptores e também
retransmissores de seus conteúdos (MOREL, 2008, p. 41-43).
Frases e imagens do periódico devem estar diretamente relacionadas com o
seu tempo, vale dizer, no imaginário construído ao seu tempo, sem estarem, portanto
desvinculados de uma realidade (MARTINS, 2003, p. 60; CAMARGO, 1971 apud
LUCA, 2006). Faz-se necessário, portanto, traçar uma análise circunstanciada da
segmentação que preside o periódico, assim como da ilustração que o completa
(MARTINS, 2003, p. 62-63).
Com relação à segmentação da revista é necessário definir o seu norte,
procurando inferir o público para o qual se dirigia, identificando interesses, valores e
técnicas de cooptação de mercado. Esse tipo de impresso preside uma dinâmica
própria, pois está inserido no sistema de produção, circulação e consumo, com vistas
à ampla divulgação no mercado. Portanto, tal periódico possui um pré-requisito que é
corresponder às expectativas dos consumidores que pretende atingir, assim como
expandir seu público, viabilizando-se como mercadoria (MARTINS, 2003, p. 62-63).
Toda a rica gama de temáticas diversificadas, públicos e conteúdos, merecem
estudos circunstanciados no quadro da revista como fonte histórica. Razão pela qual
não se pode limitar somente à análise do discurso destas publicações. É necessário
buscar, portanto, o confronto com suas partes, bem como suas contextualizações e
decodificações, seja na desconstrução do discurso como na análise das ilustrações
que a compõe (MARTINS, 2003, p. 69).
A iconografia deve ser caracterizada com a atenção voltada para as
representações sociais e funções cumpridas por ela, junto ao texto, na publicação
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